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Chapter 23 - O Guerreiro da Língua Sangrenta

Avancei com passos firmes pela vila silenciosa.

Os Anurans se espalharam como ratos assustados, saltando para dentro das cabanas ou mergulhando nas águas turvas do lago.

O medo era quase palpável.

Foi então que ele surgiu.

No centro da vila, entre as fogueiras apagadas e cabanas apodrecidas, um único guerreiro se pôs de pé.

Sua pele era de um verde mais escuro, quase negro.

No rosto, duas listras vermelhas desciam dos olhos até a mandíbula — como cicatrizes pintadas de sangue.

Carregava uma lança tosca, mas seus olhos amarelados brilhavam com determinação.

— Humano encrenqueiro... — grunhiu, a voz grossa como um trovão abafado.

— Já matei dois como você. Não hesitarei em fazer o mesmo.

Por um momento, fiquei em silêncio.

Algo nele... parecia diferente dos outros.

Uma força. Uma vontade feroz.

Assim como eu.

Eu lutava para salvar minha irmã.

Ele lutava para proteger sua vila.

Duas causas nobres, mas em lados opostos.

Me coloquei em posição de combate.

O Anuran bateu a lança no chão, fazendo ecoar um som estranho — como um tambor vibrando.

Então, atacou.

A luta foi brutal desde o início.

Ele era ágil, mais do que qualquer coisa que eu já tivesse enfrentado.

Saltava enormes distâncias com as pernas poderosas, desviando de meus golpes com facilidade.

Mas o pior veio em seguida.

De repente, sua boca se abriu em um grunhido grotesco, e sua língua disparou como um chicote, me atingindo no ombro.

Senti o impacto vibrar pelo corpo.

Cambaleei para trás, e antes que pudesse reagir, ele soltou um rugido.

— HYPER SONIC! —

O ar ao redor dele pareceu explodir.

Uma onda invisível, cortante e violenta, me atingiu em cheio.

Fui arremessado para trás, caindo de costas na lama.

O mundo girava. Meu peito ardia como se tivesse sido socado por mil martelos.

Tossi sangue.

Me forcei a levantar, ofegando.

O Anuran não sorriu. Não zombou.

Ele apenas me encarou, firme, como um verdadeiro guerreiro.

Respeitei aquilo.

Mesmo que a dor latejasse nos ossos, apertei os punhos e avancei de novo.

Ele atacava com sua língua, eu tentava esquivar.

Ele pulava alto, e eu rolava para longe.

Era uma caçada. Um duelo entre presas e predadores.

Cada golpe que eu errava, cada ataque que ele acertava, era um lembrete:

Eu ainda era fraco.

Mas, no fundo do peito, algo queimava.

A mesma chama que me trouxe até aqui.

A vontade de não desistir.

E foi essa chama que me manteve de pé.

Quando, depois de incontáveis tentativas, consegui desviar da língua chicote.

Quando, finalmente, consegui acertar um golpe direto no peito dele — mesmo que fraco.

O suficiente.

O sistema vibrou em minha mente:

[ Missão “Desafie uma Besta” concluída! +50 XP. ]

A mensagem brilhou, reconfortante.

Mas eu sabia: não venci a luta.

Ele ainda estava firme, sua língua se contorcendo no ar, pronto para continuar.

Meu corpo, por outro lado, mal aguentava ficar em pé.

Sabendo que o objetivo fora cumprido, dei dois passos trôpegos para trás e ergui a mão aberta, em sinal de rendição.

O Anuran bufou, e baixou a lança.

Sem palavras, apenas respeito silencioso entre dois guerreiros de mundos diferentes.

Afastei-me, tropeçando, sentindo a missão cumprida, mas também a vergonha da derrota.

Ainda era fraco.

Mas, agora, tinha um novo motivo para ficar mais forte.

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