Terminei de mastigar as últimas frutas que o mestre havia separado.
O sabor era estranho, levemente adocicado e amargo ao mesmo tempo, mas pelo menos enchia o estômago.
Limpei a boca com a manga da roupa, enquanto ele apenas me observava de braços cruzados, com aquele sorriso irônico de sempre.
— Parece inteiro de novo. — comentou ele, ajeitando a postura. — Impressionante. Achei que você ficaria arrastando os pés hoje.
Dei um sorriso fraco.
— Não tenho tempo pra ficar deitado. — respondi. — Minha irmã precisa de mim.
O mestre sorriu de canto, satisfeito com minha resposta.
Antes que ele pudesse me mandar fazer qualquer coisa, abri o sistema, invocando a interface azulada que surgiu diante dos meus olhos:
[ Missões Disponíveis ]
Treine com foco por 6 horas (+50 XP)
Capture um animal de pequeno porte (+50 XP)
Ajude um ser nativo do mundo espelhado (+Recompensa Especial +100.000₩)
Nível atual: 1
XP: 50/150
(Nota: A cada nível, o XP necessário aumenta +50.)
Fechei rapidamente, sentindo o coração acelerar.
Precisava fazer progresso. Cada ponto de experiência era um passo mais perto de salvar Eunha.
Levantei, batendo a poeira da roupa, e encarei o mestre.
— Estou pronto.
Ele sorriu ainda mais largo.
— Então vamos começar.
O treinamento foi brutal.
Primeiro vieram as corridas ao redor da clareira, desviando de obstáculos, saltando sobre raízes grossas e troncos caídos.
O mestre não me dava trégua, lançando pequenas pedras sempre que eu diminuía o ritmo.
Depois, flexões — mas não simples.
Flexões com palmas no ar.
Cada vez que eu subia, o mestre dava um leve empurrão, para testar meu equilíbrio.
Meu corpo tremia, os braços ameaçavam falhar, mas eu cerrava os dentes e continuava.
Suor escorria pela testa e me cegava.
Minhas roupas já grudavam na pele.
O ar parecia pesado como chumbo.
Quando caí de cara no chão, sem forças, achei que teria uma pausa.
Mas o mestre apenas assobiou.
— De pé! Agora! — ordenou.
Com dificuldade, levantei.
O treino passou então para esquivas.
Ele jogava gravetos e pedras, algumas pontiagudas, e eu precisava desviar com saltos, giros e rolamentos.
Fui acertado inúmeras vezes.
Uma pedrada certeira na testa quase me fez ver estrelas.
Mas, pouco a pouco, comecei a melhorar.
Meus olhos captavam os movimentos antes deles acontecerem.
Minhas pernas ficavam mais rápidas, mais firmes.
O corpo cansado parecia criar novas reservas de energia que eu nem sabia que existiam.
Quando finalmente terminei, estava de joelhos, arfando, mas sorrindo.
Eu estava vivo.
Eu estava melhor.
O mestre se aproximou e me ofereceu uma garrafa d'água.
— Beba. Você se saiu bem.
Aceitei, bebendo em grandes goles.
Ele se sentou numa pedra próxima, olhando para o céu avermelhado do mundo espelhado.
— Você tem espírito. Isso é raro. — comentou, quase pensativo.
Suspirei, ainda tentando recuperar o fôlego.
— Obrigado, mestre...
Ele levantou com um pulo, batendo as mãos para limpar a poeira.
— Mas por hoje, chega. — disse ele.
Ergui a cabeça, confuso.
— Por quê?
— Você prometeu visitar sua irmã hoje. — disse simplesmente, olhando sério. — Promessas são importantes.
— Mas eu...
— Sem mas. — interrompeu com firmeza. — Se não sabe honrar palavras, nunca será digno da força que deseja.
Engoli seco, entendendo.
Me levantei, apesar do corpo inteiro protestar, e arrumei minhas coisas.
Antes de partir, virei-me para ele.
— Mestre... Obrigado.
Ele apenas deu um leve aceno, com um pequeno sorriso no canto da boca.
Caminhei em direção ao ponto onde o portal se abria, sentindo o peso do treino nos músculos — e o peso da responsabilidade no coração.
Eunha me esperava.
E eu...
Eu não podia decepcioná-la.