O vento frio cortava minha pele enquanto eu atravessava o portal de volta para o Mundo Espelhado.
Ainda era estranho sentir o ar daqui — pesado, denso, quase como se fosse feito de poeira e calor.
Avancei pela trilha de pedras, já me sentindo um pouco mais firme nos passos.
Quando me aproximei da clareira onde montávamos o acampamento, ouvi o barulho de uma caneca sendo atirada no chão.
— Ora, ora... se não é o desaparecido! — rosnou a voz familiar.
O Mestre estava parado, de braços cruzados, o chapéu de palha cobrindo os olhos, mas era impossível não sentir o incômodo pulsando dele como calor.
— Sabe quantos dias se passaram desde que combinamos de treinar?! — gritou ele, dando um passo à frente.
Engoli em seco.
— M-me desculpe, Mestre! Minha irmã... eu precisava vê-la. Fiquei mais tempo do que planejei. — expliquei, curvando o corpo em respeito.
O Mestre bufou alto, chutando uma pedra.
— Isso não muda o fato de que você perdeu dias preciosos!
— Aqui, o tempo é seu inimigo, garoto! Um descuido, uma missão ignorada... e você tá morto! — disse, a voz rouca reverberando como trovão.
Permaneci curvado.
Depois de alguns segundos, ele suspirou pesadamente.
— ...Mas entendo. Família é importante. — murmurou, quase relutante.
Endireitei o corpo devagar.
— Mestre, eu completei duas missões do sistema. Estou no Nível 1 agora. Sou oficialmente um Caçador Rank D. — falei, tentando mudar o clima.
Ele arqueou uma sobrancelha, agora parecendo um pouco mais interessado.
— Hmph. Então não foi perda total. — respondeu, cruzando os braços novamente. — Que missões fez?
Contei rapidamente: as 24 horas de treino, a navegação pelo sistema, o XP que havia ganho e como agora restava apenas a missão mais difícil...
Desafiar uma besta.
O Mestre escutou tudo em silêncio, apenas balançando a cabeça de vez em quando.
Quando terminei, ele caminhou até mim, colocou a mão pesada sobre meu ombro e disse:
— Muito bem. Já que decidiu entrar nessa... eu vou ajudar.
Seus olhos dourados brilharam com um estranho orgulho.
— Não quero que morra como um idiota antes de aprender a usar esse poder direito. — completou, soltando uma leve risada.
Senti o peso da responsabilidade mais ainda.
Mas também... senti algo a mais.
Confiança.
Com o Mestre ao meu lado, talvez eu tivesse chance.
Talvez... só talvez...
Eu pudesse vencer.