O sol mal tinha despontado no horizonte e eu já corria pela clareira, a respiração rasgando minha garganta.
Cada passo era uma pequena batalha.
Cada gota de suor, uma vitória silenciosa.
Era o segundo dia de treinamento.
O corpo doía de formas que eu nunca tinha sentido antes.
Parecia que meus ossos, músculos e até mesmo minha alma estavam sendo moídos e reconstruídos.
Mas eu continuava.
Corria.
Pulava.
Levantava pedras.
Suportava a tremedeira dos braços na prancha interminável.
Baek Hojin, parado de braços cruzados, observava sem dizer uma palavra.
A manhã passou como um borrão.
O calor e a exaustão se misturaram até eu não saber mais onde terminava o ar e começava a dor.
Na terceira série de flexões — com uma pedra pesada nas costas — meu corpo finalmente cedeu.
Caí no chão, arfando como um peixe fora d'água.
Fechei os olhos, querendo desistir.
Só por um momento.
Mas então, na escuridão da minha mente, vi o rosto de Eunha.
Frágil.
Sorrindo, mesmo doente.
Eu não podia parar.
Gemi baixinho, sentindo lágrimas misturadas ao suor, e empurrei o chão com tudo que me restava.
Voltei à posição de flexão.
Continuei.
Uma, duas, três vezes mais.
Quando finalmente terminei, desabei de novo — mas dessa vez, com um sorriso cansado.
O dia avançou para a tarde.
Sob o sol escaldante, Baek Hojin finalmente se aproximou.
Fiquei tenso, esperando outra ordem impossível.
Mas, para minha surpresa, ele se agachou na minha frente.
Havia algo diferente em seu olhar.
Uma seriedade incomum.
— Escuta aqui, moleque — disse, voz baixa. — A maioria que eu trouxe para cá já teria fugido.
Ou estaria chorando, pedindo para voltar pra casa.
Baixei o olhar, envergonhado pelo meu próprio sofrimento.
Mas Hojin continuou.
— Você...
Você é como uma pedra.
Bruto, sem forma, mas resistente.
Capaz de aguentar tudo que o mundo jogar em cima.
Pisquei, sem acreditar no que ouvia.
Ele deu um leve sorriso — o primeiro genuíno desde que nos conhecemos.
— Se continuar assim... vai se tornar algo que nem eu conseguiria parar.
Meus olhos arderam.
Mas dessa vez, não era só de dor.
Era orgulho.
Orgulho de não ter desistido.
Baek Hojin levantou e estendeu a mão para mim.
— Vem.
Ainda temos muito a fazer.
Agarrei sua mão com força.
E naquele momento, soube:
Eu estava começando a mudar.
Não meu corpo.
Mas meu coração.
Duro como pedra.
Indestrutível.