O cheiro de sangue encharcava o ar.
O Leo'kar estava morto, espalhado no chão em pedaços grotescos.
Eu mal conseguia respirar.
Minhas pernas tremiam.
Meus punhos estavam cerrados com força.
E então vi.
Baek Hojin caminhava até mim.
Cada passo dele deixava um rastro de sangue no chão.
Seu corpo era um mosaico de cortes profundos e hematomas.
Os olhos, no entanto, não mostravam dor.
Mostravam apenas... resignação.
[Detecção de estado crítico.]
[Verificando possibilidade de cura...]
[Condição: Instalação de Sistema completa = 0%]
[Recursos atuais: Nenhum método de cura disponível.]
A mensagem piscou fria diante dos meus olhos.
Sem sistema.
Sem habilidades de suporte.
Nada.
Eu... não podia fazer nada por ele.
Nada além de assistir.
Hojin parou à minha frente.
Tinha o rosto ensanguentado, mas um pequeno sorriso cansado brincava nos cantos da boca.
Ele respirou fundo, como se juntasse forças.
Então falou, com voz rouca:
— É isso que o mundo daqui é, garoto.
— Cruel. Sujo. Sem piedade.
O vento soprou, carregando o cheiro metálico de morte.
Hojin olhou para trás, para o corpo destroçado do Leo'kar.
— Não somos heróis aqui. Não somos salvadores.
— Somos apenas sobreviventes... num mundo que já esqueceu o que é compaixão.
Ele se ajoelhou lentamente, as mãos trêmulas pressionando a perna ferida.
Seus olhos se fixaram nos meus.
Firmes.
Cortantes.
— Agora me diga...
— Você ainda quer esse caminho?
As palavras dele cortaram mais fundo do que qualquer garra poderia.
Eu hesitei.
As imagens da batalha brutal passavam diante dos meus olhos.
O rugido de dor.
O sussurro final.
Sha'ree.
O amor... perdido para sempre.
Meu estômago embrulhou.
Minhas mãos suaram frio.
Uma parte de mim gritava para fugir.
Correr de volta para casa.
Para minha irmã.
Para um mundo onde a morte não estava à espreita a cada esquina.
Mas outra parte — uma mais profunda, cravada no fundo da minha alma — dizia que esse era o único caminho.
O único jeito de mudar algo.
De protegê-la.
De proteger a mim mesmo.
De me tornar forte o bastante para nunca mais perder ninguém.
Eu olhei para Hojin.
Respirei fundo.
E mesmo com medo, mesmo tremendo, mesmo encharcado de dúvidas, respondi:
— Sim.
Por um instante, pensei ver um brilho orgulhoso nos olhos dele.
Ou talvez fosse apenas o reflexo do sangue.
Hojin deu uma risada baixa, quase imperceptível.
— Então se prepare, garoto... — murmurou — porque daqui pra frente... só piora.
Ele se levantou com dificuldade.
Olhando para o céu vermelho-alaranjado daquele mundo cruel.
E pela primeira vez, senti que uma porta havia se aberto.
Uma porta que não poderia mais ser fechada.
No fundo da minha mente, uma nova mensagem surgiu.
[Sincronização concluída.]
[Instalação do Sistema iniciada.]
[Bem-vindo, Caçador.]
O destino estava selado.
E eu havia escolhido esse inferno... de olhos abertos.