O silêncio depois da batalha era quase ensurdecedor.
Eu ainda tentava entender tudo que tinha acontecido, quando vi Baek Hojin deslizar a mão sobre o próprio peito ensanguentado.
Uma luz pálida, quase invisível, envolveu seus dedos.
As feridas mais graves começaram a fechar.
Os cortes mais profundos se cicatrizaram, deixando apenas marcas avermelhadas.
O cheiro metálico do sangue ainda estava no ar, mas Hojin já parecia menos... frágil.
Eu me aproximei, atônito.
— Você... conseguiu se curar?
Ele assentiu, respirando fundo.
— Meu sistema não é especializado em cura — disse, com uma careta de dor — mas... certas funções básicas estão disponíveis para qualquer Caçador que completar missões.
— Pequenos frascos de recuperação... são entregues como recompensa.
Ele estendeu a mão para mim, mostrando três frascos minúsculos presos em uma corrente nos dedos — pareciam quase pingentes de vidro.
— Cada frasco desses é uma chance de vida — murmurou.
— Uma chance a menos de morrer.
Olhou para mim, o olhar sério.
— Mas cuidado.
— Eles não são infinitos. Você vai ganhar um... talvez dois... se completar missões pequenas.
— Usá-los à toa é pedir pra morrer na próxima luta.
Eu engoli em seco.
As palavras dele pesavam muito mais do que qualquer discurso.
Cada frasco... era precioso.
Cada gota... significava viver ou morrer.
Hojin olhou para o céu, pensativo.
O vento batia contra seus cabelos desgrenhados.
Um sorriso triste surgiu em seu rosto.
— Existem sistemas que têm habilidades de regeneração verdadeira... — comentou, como se falasse com o próprio passado.
— Curam ferimentos instantaneamente. Queimam doenças. Regeneram membros perdidos.
Ele balançou a cabeça.
— Não é o meu caso.
Por um momento, o silêncio reinou.
Ele parecia distante, perdido em lembranças antigas.
Então, de repente, ele bateu a mão na própria testa.
— Merda... — murmurou — a sua irmã.
Eu pisquei, surpreso.
— Minha irmã?
Hojin se virou para mim, a expressão séria.
— A gente combinou que você teria uma hora por dia para vê-la, lembra?
— Não importa o quão ferrados estejamos... promessas precisam ser mantidas.
Ele se levantou devagar, ainda com o corpo machucado.
Apoiou a mão no meu ombro.
— Vamos.
— Não vou deixar você falhar com quem te espera.
Seus olhos, mesmo endurecidos pelas batalhas, ainda guardavam um traço de humanidade.
E naquele momento, eu soube:
A força real dele... não estava apenas nos golpes.
Estava nas escolhas.
Enquanto caminhávamos de volta para o ponto de transporte, sentia meu coração acelerado.
Não só por causa do perigo.
Mas porque, finalmente, eu estava começando a entender.
Esse mundo brutal...
Essas batalhas sangrentas...
Essas promessas...
Eram tudo o que me tornaria mais forte.
Ou me destruiriam.
Só o tempo diria.