O silêncio que se seguiu parecia surreal.
A poeira ainda flutuava no ar.
O Leo'kar estava imóvel, esmagado contra o chão.
Ou assim pensávamos.
De repente, um som baixo e gutural começou a ecoar da criatura caída.
Um rosnado profundo, carregado de dor e ódio.
Com um estalo seco, o corpo do Leo'kar se mexeu.
As garras cravaram fundo no solo.
Lentamente, ele se ergueu.
Sangue escorria de sua testa, manchando os olhos dourados de vermelho.
Seus dentes, expostos em um rosnado animalesco, pingavam sangue.
Mas o que mais chamou minha atenção foi outra coisa.
Lágrimas.
O Leo'kar chorava.
Chorava e rangia os dentes.
E então, numa voz rouca, gutural, carregada de fúria, ele falou:
— Assassino... você matou minha companheira... minha vida... minha fêmea!
O ódio que transbordava dele era quase palpável, como uma tempestade invisível se formando.
Seus músculos inchavam ainda mais.
As garras cresceram, afiadas como adagas recém-forjadas.
Seus olhos, agora completamente tingidos de vermelho, fitavam apenas Baek Hojin.
Eu estremeci.
Aquele não era mais apenas um caçador Leo'kar.
Era uma besta consumida pela vingança.
Hojin franziu a testa pela primeira vez.
O sorriso relaxado desapareceu.
— Merda... — murmurou. — Ele entrou em Frenesi.
Frenesi.
Eu já tinha lido sobre isso no livro que encontrei na biblioteca.
Era um estado extremo.
Quando a dor, o ódio ou o desespero ultrapassavam os limites de um ser na Terra Espelhada...
ele abandonava o raciocínio e se tornava um monstro puro, lutando até a morte.
Ou matava.
Ou era morto.
Não havia outra saída.
O Leo'kar rugiu, fazendo o solo vibrar.
Saltou com velocidade insana.
Cada golpe de suas garras cortava o ar como lâminas invisíveis.
Hojin esquivava-se, mas agora com mais seriedade.
Cada movimento era mais preciso, mais econômico.
Não havia mais brincadeira.
Era uma luta real.
Uma luta até que um dos dois não pudesse mais se levantar.
Eu me arrastei para trás, longe do campo de batalha improvisado.
Meu coração batia freneticamente.
A sensação de impotência me esmagava.
E então, algo estranho aconteceu.
No canto da minha visão, por uma fração de segundo...
Uma luz azul piscou.
"?!"
Um som, como um leve tilintar metálico, ecoou dentro da minha cabeça.
[Condição atendida: Perigo de morte detectado.]
[Sistema de Domínio Animal em inicialização...]
As palavras sumiram tão rápido quanto surgiram.
Mas deixaram uma marca queimando na minha mente.
Algo dentro de mim... tinha despertado.
Mas não havia tempo para pensar.
A frente dos meus olhos, Baek Hojin rugia como um trovão enquanto o Leo'kar lançava uma fúria incontrolável.
E eu entendia:
Aquela manhã...
mudaria tudo.
Para sempre.