O cheiro de terra molhada e fumaça me despertou.
Abri os olhos, piscando contra a luz fraca que filtrava entre as folhas trançadas.
Estava deitado numa cama rústica, feita de cipós e couro, envolto num cobertor áspero.
Minha cabeça latejava. Meu corpo inteiro parecia ter sido atropelado por um caminhão.
Tentei me mover e gemi de dor.
Havia sussurros ao meu redor.
Levantei o olhar.
Vários Anurans se reuniam à minha volta, me observando com olhos grandes e cheios de algo que parecia... admiração.
No meio deles, um rosto conhecido.
Meu amigo.
O Anuran que lutou ao meu lado.
Agora com seis riscos marcando sua bochecha — marcas frescas.
Eu não precisava perguntar o motivo.
Ele havia matado mais um.
Fez o que precisava ser feito.
Nossos olhos se encontraram.
Ele sorriu.
Um sorriso orgulhoso, sincero.
Minha garganta apertou.
Tentei retribuir o sorriso, mas só consegui fechar os olhos por um segundo, engolindo a dor e a culpa que ainda pesavam sobre mim.
"Eu fiz isso."
"Eu causei tudo isso."
Antes que pudesse me afogar nesses pensamentos, uma voz seca cortou o ar.
— Acordou, desgraçado.
O Mestre estava lá, encostado numa parede de madeira e barro, braços cruzados.
Mas diferente de antes... seu olhar não era de zombaria.
Era... cuidadoso.
Quase desconfiado.
Como se estivesse tentando entender quem eu havia me tornado.
— Dormiu por dois dias inteiros. — disse ele, se aproximando. — Achei que ia virar adubo de floresta.
Tentei rir, mas a dor me fez tossir em vez disso.
O Anuran de seis riscos se ajoelhou ao meu lado e apoiou sua mão no meu ombro — a que restava.
Não disse nada.
Não precisava.
Eu entendia.
A gratidão.
A aceitação.
A promessa silenciosa de que estávamos juntos, acontecesse o que acontecesse.
O sistema brilhou diante dos meus olhos:
[ Nível Atual: 3 ] [ XP Atual: 50/250 XP ] [ Pontos de Atributo Disponíveis: +2 ] [ Habilidade Ativa: Combustão Espontânea ] [ Atualização do Sistema: Novas Missões e Recompensas Desbloqueadas ]
Fechei os olhos brevemente.
"Eu subi de nível... mas a que custo?"
O Mestre se ajoelhou ao meu lado.
Seus olhos endurecidos encontraram os meus.
— Salvou essa gente, garoto. — ele disse, a voz baixa, quase como um peso.
— Não importa o que você sente. Heróis... são os primeiros a sangrar.
Abracei o cobertor com as mãos trêmulas.
O sangue ainda estava em minha pele.
O cheiro ainda impregnava o ar.
E mesmo assim, eles me olhavam como se eu fosse a luz naquele lugar.
Respirei fundo.
Se era esse o preço... então eu o pagaria.
Por Eunha.
Pelos que não podiam lutar.
Pelos que ainda confiavam em mim.
Abri os olhos, sentindo o calor do amigo ao meu lado.
E jurei em silêncio:
Eu não cairia.