Cherreads

Chapter 33 - Herói de Sangue

O cheiro de terra molhada e fumaça me despertou.

Abri os olhos, piscando contra a luz fraca que filtrava entre as folhas trançadas.

Estava deitado numa cama rústica, feita de cipós e couro, envolto num cobertor áspero.

Minha cabeça latejava. Meu corpo inteiro parecia ter sido atropelado por um caminhão.

Tentei me mover e gemi de dor.

Havia sussurros ao meu redor.

Levantei o olhar.

Vários Anurans se reuniam à minha volta, me observando com olhos grandes e cheios de algo que parecia... admiração.

No meio deles, um rosto conhecido.

Meu amigo.

O Anuran que lutou ao meu lado.

Agora com seis riscos marcando sua bochecha — marcas frescas.

Eu não precisava perguntar o motivo.

Ele havia matado mais um.

Fez o que precisava ser feito.

Nossos olhos se encontraram.

Ele sorriu.

Um sorriso orgulhoso, sincero.

Minha garganta apertou.

Tentei retribuir o sorriso, mas só consegui fechar os olhos por um segundo, engolindo a dor e a culpa que ainda pesavam sobre mim.

"Eu fiz isso."

"Eu causei tudo isso."

Antes que pudesse me afogar nesses pensamentos, uma voz seca cortou o ar.

— Acordou, desgraçado.

O Mestre estava lá, encostado numa parede de madeira e barro, braços cruzados.

Mas diferente de antes... seu olhar não era de zombaria.

Era... cuidadoso.

Quase desconfiado.

Como se estivesse tentando entender quem eu havia me tornado.

— Dormiu por dois dias inteiros. — disse ele, se aproximando. — Achei que ia virar adubo de floresta.

Tentei rir, mas a dor me fez tossir em vez disso.

O Anuran de seis riscos se ajoelhou ao meu lado e apoiou sua mão no meu ombro — a que restava.

Não disse nada.

Não precisava.

Eu entendia.

A gratidão.

A aceitação.

A promessa silenciosa de que estávamos juntos, acontecesse o que acontecesse.

O sistema brilhou diante dos meus olhos:

[ Nível Atual: 3 ] [ XP Atual: 50/250 XP ] [ Pontos de Atributo Disponíveis: +2 ] [ Habilidade Ativa: Combustão Espontânea ] [ Atualização do Sistema: Novas Missões e Recompensas Desbloqueadas ]

Fechei os olhos brevemente.

"Eu subi de nível... mas a que custo?"

O Mestre se ajoelhou ao meu lado.

Seus olhos endurecidos encontraram os meus.

— Salvou essa gente, garoto. — ele disse, a voz baixa, quase como um peso.

— Não importa o que você sente. Heróis... são os primeiros a sangrar.

Abracei o cobertor com as mãos trêmulas.

O sangue ainda estava em minha pele.

O cheiro ainda impregnava o ar.

E mesmo assim, eles me olhavam como se eu fosse a luz naquele lugar.

Respirei fundo.

Se era esse o preço... então eu o pagaria.

Por Eunha.

Pelos que não podiam lutar.

Pelos que ainda confiavam em mim.

Abri os olhos, sentindo o calor do amigo ao meu lado.

E jurei em silêncio:

Eu não cairia.

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