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Capítulo — O Banquete dos Julgamentos
Palácio do Norte — Três dias após o resgate
O vento do Norte soprava como um velho cântico sobre as torres de pedra. Havia silêncio no ar — um silêncio que prenunciava algo mais profundo que guerra: política.
Dimitry caminhava pelos corredores em direção à câmara do rei. Seu coração estava dividido entre gratidão e revolta. Encontrara a filha, mas perdera a paz. Quando entrou, Adam estava de pé, em frente às janelas abertas, observando o céu encoberto.
— Pai... — disse Dimitry, com firmeza respeitosa. — Peço que liberte Cora.
Adam não respondeu de imediato. Só quando o silêncio se tornava quase insuportável, falou:
— Confiná-la foi necessário. Ela pertence à Casa do Grifo. E há sussurros demais sobre aquela casa.
— E há amor demais entre nós para que eu ignore. Ela me jurou inocência.
Adam virou-se. Os olhos sábios, duros, mas não frios.
— Eu só a mantive viva por você. Que seja solta. Mas vigiada.
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Ala da Lua — Quarto de Kátyra
Kátyra repousava entre almofadas de linho branco. Ainda havia sombras em seus olhos, mas o brilho retornava pouco a pouco. Quando a porta se abriu e Cora entrou, seguida de Dimitry, ela sorriu pela primeira vez em dias.
Cora ajoelhou-se junto à filha, beijando sua testa.
— Minha menina de prata... pensei que te havia perdido.
Dimitry sentou-se ao lado delas. Por um momento, foram apenas três — sem reinos, sem política, sem conselhos.
Kátyra chorou em silêncio, e os pais a envolveram em seus braços.
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Salão das Colunas — Banquete de Adam
A grande mesa estava posta. Pratos de obsidiana, cálices de cristal do Vale Lúgubre, o brasão do urso esculpido em gelo ao centro. Os clãs estavam reunidos: Grifo, Serpente, Falcão, Veado, e até um ou dois representantes dos Jeangles.
Adam entrou com sua imponência silenciosa, acompanhado de Kátyra, Dimitry e Cora.
Tudo parecia controlado. Cordial. Calculado.
Mas a armadilha estava armada.
Quando o vinho foi servido e as primeiras palavras diplomáticas trocadas, Adam ergueu a mão.
— Hoje não é apenas um jantar. É um julgamento disfarçado. O reino está dividido. Minha neta foi traída. E entre os que estão aqui... há culpados.
Um silêncio pesado caiu.
Foi então que os representantes do Clã da Serpente se levantaram.
Um deles, um homem de olhos estreitos e sorriso serpentino, falou:
— Traída, sim. Mas também... manchada.
Kátyra sentiu um calafrio.
— Nós sabemos o que aconteceu nas cavernas. — O homem sorriu como quem desfere uma lâmina. — Sabemos que ela não saiu tão ilesa quanto quis parecer.
As palavras queimaram como ácido.
— Está grávida, não está? — ele continuou. — Grávida de sangue impuro. Grávida de um Bardaxa.
Murmúrios explodiram. Cadeiras arrastadas, mãos cobrindo bocas. Dimitry se levantou num salto, sacando a adaga. Adam apenas observava, como quem esperava o exato instante do caos.
— E o melhor — disse o homem — é que todos achavam que ela era pura. Que a princesa era o símbolo da aliança. Mas ela se entregou numa caverna escura, como uma fugitiva qualquer.
Kátyra empalideceu. Cora segurou a mão dela.
O Conselho se levantou. Um dos membros, um ancião do Clã do Veado, falou alto:
— Diante disso, exigimos que ela se case imediatamente. Com Erizy, como era o acordo. Ou...
Outro completou, da Casa do Falcão:
— Ou seja exilada. Ou executada, para que o sangue real não seja corrompido.
Dimitry rugiu:
— Ninguém toca em minha filha!
Mas Adam apenas ergueu a mão, com o olhar fixo em Kátyra.
— Silêncio. A princesa terá a chance de se defender. Mas hoje... vimos o que acontece quando se joga com serpentes.
O Caos é espalhado pelo salão ,Kátyra não tem reação, apenas se vira e corre escondendo o rosto .
--Que injustiça .
Tharion ,que entrara mais cedo,em uma carroça de hortaliças ,se posicionando de frente para o lugar onde estaria Kátyra ,na esperança de fazer algum sinal ,e que fosse notado.
Adam ergue as mãos .
Um silêncio respeitoso toma conta do salão, então ele se retira ,com Dimitry e Cora .