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Chapter 23 - A Coroa e a Cova

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Capítulo — "A Coroa e a Cova"

As trombetas soaram ao meio-dia. O céu, enfeitado com dragões de estandarte e grifos prateados bordados nas bandeiras, fingia um júbilo que o povo não sentia. O casamento da princesa Kátyra com o príncipe Erizy fora anunciado como a união dos clãs em tempos de crise. Mas os olhos atentos sabiam: aquilo era uma farsa vestida de ouro.

O templo de gelo e pedra estava lotado. Guardiões, Darxas, representantes das Casas e súditos dos quatro ventos estavam presentes, cada qual com sua máscara. Adam, imóvel como uma estátua antiga, fitava a neta com um olhar indecifrável. Dimitry e Cora sustentavam a compostura com dificuldade.

Kátyra entrou com a cabeça erguida, o vestido azul-acinzentado cobrindo-a como uma armadura de seda. Ninguém via suas mãos trêmulas sob as luvas. Ninguém via o silêncio gritando dentro dela.

Erizy sorriu com a vitória dos vis, o sorriso de um homem que pensa ter subjugado um dragão.

As palavras rituais foram ditas. A relíquia da linhagem, uma esfera de cristal âmbar, foi tocada pelas mãos dos noivos. Um leve brilho confirmou o sangue do herdeiro. A mentira estava selada.

Quando os aplausos ecoaram, Kátyra apenas fechou os olhos por um instante. E pensou em Tharion.

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A noite caiu com lentidão cruel. O banquete foi farto, as danças longas, os brindes forçados. Mas todos esperavam o mesmo desfecho: a consumação pública do casamento, como mandava a tradição dos clãs antigos.

No quarto cerimonial da Torre Nival, pétalas foram espalhadas sobre o leito. Perfumes doces disfarçavam o odor de incenso sagrado. E ali, Kátyra esperou.

Erizy entrou embriagado de poder. Seus olhos brilhavam de luxúria e dominação.

— A princesa se curvou, afinal. — ele murmurou, tirando o manto. — Você pode ter fugido por uma noite... mas agora é minha. Até o fim.

Kátyra se manteve imóvel. Não por medo, mas por cálculo.

— Eu não sou sua, Erizy. Só fui colocada aqui.

— E quem liga? Os olhos viram, o cristal confirmou, e a corte aplaudiu. Você é minha esposa agora. E amanhã, será minha posse diante dos reinos.

Ele se aproximou, tocando-a com violência disfarçada de carinho.

— Se você se debater... não vou me incomodar. Isso só me excita mais.

Ela segurou o olhar dele com frieza. Não choraria. Não imploraria.

— Então faça. Mas saiba que dragões dormem... até queimar tudo.

Ele não riu. Pela primeira vez, viu algo nos olhos dela que não compreendia: controle. Mesmo ali, vulnerável, Kátyra era a tempestade contida.

A noite foi longa. Não pelo ato em si — que ele conduziu com brutalidade previsível —, mas pela tensão. Kátyra não se partiu. Não gritou. E ao final, quando Erizy adormeceu satisfeito, ela se levantou em silêncio e lavou o o corpo em uma bacia de prata, como faziam as rainhas antes da guerra.

O reflexo na água não era o de uma esposa. Era o de uma criatura à beira do abismo.

E naquele momento, Kátyra soube: o tempo de reagir havia terminado.

Agora era hora de agir.

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