Três dias caminhando por terras amaldiçoadas.
A floresta de Vordrenn era conhecida por devorar viajantes. Diziam que os que entravam saíam mudados... ou nem saíam.
Perfeito pra mim. Eu já estava quebrado por dentro mesmo.
A cada passo, meus pensamentos voltavam para aquele homem de máscara branca. A forma como ele me olhou... como se eu fosse uma formiga sob sua bota. Eu queria cravar meus punhos nos olhos dele. Rasgar aquela máscara maldita e ver o medo tomar seu rosto. Mas não ainda. Não do jeito que eu sou agora.
— Eu preciso de poder... — sussurrei pela décima vez naquela manhã.
Um uivo ecoou entre as árvores. Não era de lobo. Era mais... grave. Feroz. As folhas se calaram. Os pássaros desapareceram. Até o vento segurou a respiração.
— Merda...
Saltei para trás no exato instante em que uma criatura maior que um cavalo saltava da neblina. Tinha pele de pedra rachada e presas como lanças. Um Olkruun — uma besta devoradora de magia.
Meus pés se moveram antes da mente. Rolei pelo chão, tirei a adaga do velho Kael da cintura e me preparei. O bicho rosnava, as mandíbulas pingando um veneno negro.
"Corra", dizia a parte racional da minha cabeça.
Mas eu não corria mais.
Quando ele investiu, me joguei contra ele com um grito.
Fui esmagado contra uma árvore.
A dor me roubou o ar. A visão ficou turva. Eu ia morrer ali? Antes mesmo de começar minha vingança?
Não. Não ainda.
O monstro ergueu as garras para finalizar o golpe, mas então... algo assobiou pelo ar.
Uma flecha atravessou seu olho esquerdo. Outra logo em seguida. O Olkruun guinchou e recuou, cambaleando.
— Você realmente tem um parafuso a menos, garoto.
Uma figura encapuzada saltou de uma árvore, pousando ao meu lado. Era uma mulher. Alta, olhar afiado, pele escura como a noite, cabelos trançados. E segurava um arco feito de ossos.
— Quem...?
— Me chamo Velka. Caçadora de monstros. E você acabou de estragar meu plano de abate.
Ela sorriu. Um sorriso frio, perigoso.
— Mas admito... gosto de gente teimosa.
Antes que eu respondesse, o Olkruun rugiu mais uma vez. Ainda não estava morto.
Velka se virou para ele, puxando outra flecha.
— Vamos acabar com isso juntos, garoto raivoso. Depois, talvez, eu decida se vale a pena te ensinar a não morrer tão fácil.