O sangue ainda escorria da minha mão quando atravessei os portões queimados da minha vila.
As cinzas dançavam no vento como flocos de neve negra. Era tudo o que restava.
— Maldição... — murmurei, apertando o punho. O cheiro de carne queimada ainda grudava na minha pele.
Três horas atrás, eu era apenas mais um aprendiz do velho Kael, um ferreiro rabugento com mãos de pedra e coração mole. Agora ele estava morto. Assim como minha irmã. Minha mãe. Meus amigos. Todos... mortos.
"Não importa o quanto grite. Eles não voltarão."
As palavras do homem de máscara branca ainda queimavam na minha cabeça como ferro em brasa. Ele apareceu com aquele exército de espectros e, sem aviso, reduziu tudo ao nada. Disse que era um "teste". Que "só os dignos sobrevivem".
Eu sobrevivi.
E isso foi o suficiente pra me odiar.
— Akira...? — a voz fraca de alguém me chamou do meio das ruínas.
Meus pés correram antes que eu pensasse. Entre as pedras partidas, encontrei Rika, a curandeira da vila. Ela tremia, coberta de poeira e sangue. Um dos olhos havia sido arrancado.
— Rika! Eu— eu vou te tirar daqui!
Ela segurou minha mão com força. E sorriu. Um sorriso trincado.
— Não... Akira... você... tem que ir atrás deles. Eles são da Ordem da Névoa... Eles vão fazer isso de novo... em outras vilas...
Ordem da Névoa.
Esses malditos vão pagar.
— Vou caçar cada um deles. Onde quer que se escondam.
Rika tossiu sangue. A vida escapava dela como areia entre os dedos.
— Você não está... pronto. Precisa de poder, Akira...
Eu sabia. Mas o que importava agora?
O ódio me sustentava. A raiva era tudo o que restava.
Rika morreu segurando minha mão.
Naquela noite, deixei minha vila em ruínas para trás. Enterrei os mortos. Queimei os corpos dos espectros. E segui a trilha dos assassinos de máscara.
Eu me chamo Akira Shinroz.
E este mundo vai tremer quando a minha vingança começar.