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Capítulo — "A Máscara e a Lâmina"
O convite se espalhou como fogo em palha seca.
"Baile de Inverno no Palácio de Real.
Celebração da Aliança Real e apresentação oficial do herdeiro do Norte."
Assinado por Adam, o Rei dos Ursos.
A nobreza tremeu — uns de expectativa, outros de medo. O Clã da Serpente tomou isso como um reforço da posição de Erizy, exigindo que ele e Kátyra surgissem como um casal sólido diante dos quatro ventos. Mas os mais antigos sabiam: Adam jamais fazia algo por vaidade.
Na torre mais alta, Kátyra lia o convite enquanto balançava levemente o berço de seu filho. A criança agora caminhava e falava em sussurros, como se temesse incomodar os vivos. Seus olhos — âmbar e profundos — fixaram-se nos dela.
— Mamãe... o homem da espada vem me ver? — ele perguntou, com um sorriso tímido.
Kátyra parou.
— Que homem?
— O que tem fogo no coração... igual o meu. — respondeu ele, colocando a pequena mão sobre o próprio peito.
Naquele instante, ela soube. Não precisava de relíquias, nem de magia. O menino era filho de Tharion. Não por acidente. Mas por amor — mesmo que escondido em meio ao caos. Aquele sangue não pertencia aos Serpentes, nem à podridão dos Darxas.
Pertencia à tempestade.
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Nos subterrâneos do palácio, Tharion se preparava para partir com aliados de confiança quando foi emboscado. Erizy o esperava, acompanhado de dois Darxas encapuzados.
— Esperava que se escondesse melhor. Ou ao menos tivesse morrido de vez. — disse Erizy, erguendo uma lâmina curta envenenada. — Mas você insiste em sobreviver. E isso me cansa.
Tharion sorriu, cuspindo sangue de um golpe já recebido.
— A mim também me cansa ver você ainda respirando.
A luta foi rápida, suja e silenciosa. Mas Tharion foi ferido — não mortalmente, mas o suficiente para deixá-lo instável. Conseguiu escapar com a ajuda de um aliado Jeangle, mas a mensagem estava clara: Erizy não permitiria que ele surgisse no baile.
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Na biblioteca secreta, Adam recebia Dimitry à luz de velas.
— Pai... por que me chamou com tanta urgência?
O velho rei depositou a coroa negra dos Precursores sobre a mesa.
— Porque este baile será o início do fim. E talvez... o meu último inverno.
Dimitry empalideceu.
— Não diga isso. Ainda há tempo. Podemos recuar.
— Recuar é para os que já perderam. E eu ainda não fui vencido.
Adam se levantou com dificuldade. Mas sua voz continuava firme como um trovão contido.
— Escute-me: se eu cair, você deve unir as casas. Não para manter o trono — mas para destruir a podridão dentro dele. Seu sangue é puro. E sua filha... é a herdeira da nova era.
— E se o povo não aceitar? Se os clãs se voltarem contra nós?
— Então que caiam todos. E que os dragões despertem.
Dimitry não respondeu. Mas seus olhos queimaram com algo que ele ainda não nomeava: determinação.
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Na noite anterior ao baile, Kátyra sentou-se diante do espelho. A aia prendeu-lhe os cabelos em forma de coroa e lhe entregou um vestido azul-acinzentado cravejado de pedras negras — o mesmo tecido da noite em que fora forçada a se unir a Erizy.
Desta vez, ela usaria a armadura por vontade própria.
Ao lado, seu filho dormia em paz.
No espelho, ela já não via uma esposa. Nem apenas uma mãe.
Via o prelúdio da queda de um império.
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