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Chapter 28 - O Equilíbrio.

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O corpo de Adam ainda mal havia tocado o chão quando a terra gemeu. Um som surdo, profundo, ancestral — como o despertar de algo enterrado há milênios. As paredes do Palácio de Nivélion estremeceram. Rachaduras serpenteavam pelos salões. Do lado de fora, a neve começou a evaporar, como se o frio estivesse fugindo de algo muito mais antigo e muito mais sombrio.

Uma tremulação poderosa sacudiu o chão, derrubando soldados, virando mesas, e partindo estátuas ao meio. Do lado de fora dos muros do palácio, um novo exército surgia entre a neblina: legiões sombrias, armadas com lâminas negras como ausência de luz. Eram os seguidores verdadeiros de Erizy. Um culto escondido por séculos. Ataxas adormecidos. Homens, mulheres e bestas que venderam a alma à escuridão.

E sobre eles, voando com gritos cortantes, estavam os Falcões Negros.

A batalha no céu começou.

Grifos contra Falcões. Clã do Ar contra o Vazio. Cora liderava a vanguarda, seus olhos inflamados de poder e justiça. O céu tornava-se um vórtice de penas, relâmpagos e magia.

Kátyra tentava proteger o menino quando Tharion irrompeu pelo salão em ruínas, ferido, ofegante.

— Vem comigo! — ele gritou, sem perceber por que seu coração disparava ao ver o menino.

A princesa hesitou.

— Ele é... importante.

Tharion pegou o garoto nos braços.

— Confia em mim.

Sem mais palavras, ele correu. Saiu por um dos túneis secretos sob o palácio, enquanto os gritos da batalha cresciam como um coro demoníaco. Só mais tarde, muito mais tarde, ele entenderia por que os olhos da criança eram iguais aos seus.

No salão destruído, Kátyra permanecia. O vestido prateado agora estava manchado de sangue e poeira. Os olhos — os olhos dela estavam diferentes. Algo nela despertava.

Uma sombra desceu sobre o teto. Um dos comandantes do exército sombrio, um Ataxa gigante com quatro braços, entrou estraçalhando colunas. Magia negra escorria de seus olhos. Ele ergueu a lâmina dupla para o golpe final.

Mas então… o silêncio.

O tempo parou.

Kátyra ergueu os braços.

Sua pele brilhou como vidro incandescente. Seus cabelos se ergueram, como se o vento a temesse. Seus olhos... deixaram de ser olhos. Tornaram-se sóis.

E quando ela falou, sua voz era trovão e profecia:

— Eu sou a filha da tempestade. A chama e o gelo. A linhagem dos dragões e dos céus. EU SOU O EQUILÍBRIO.

A rajada de poder que explodiu a partir de seu corpo varreu o salão.

O Ataxa foi desintegrado no ar. As sombras se despedaçaram. As runas ocultas nas paredes acenderam como fogueiras eternas. No céu, os grifos rugiram, como se cada criatura alada reconhecesse que algo maior havia despertado.

A luz subiu em direção às nuvens. E por um instante, a noite virou dia.

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