Cresceram em silêncio.
Therys era calado desde pequeno. Observava tudo, falava pouco. Gostava de ouvir o som do vento entre as árvores e de ver a geada se formar nas folhas antes do sol nascer. Rhaziel, ao contrário, era inquieto. Corria pelos campos como se tivesse fogo nos pés — e às vezes, de fato, tinha.
A casa era simples, feita de pedra e madeira velha. O pai cuidava da lavoura com mãos calejadas e voz serena. A mãe, Mariana, era dura — e talvez dura demais. Temia os filhos. Não dizia isso em voz alta, mas bastava um olhar para entender. As mãos tremiam quando Rhaziel se irritava. O frio no quarto de Therys a fazia dormir na sala.
Certa noite, a casa tremeu. Rhaziel, aos quatro anos, teve um pesadelo. Quando acordou, metade da cama queimava em brasas vivas. Therys estava de pé ao lado, protegendo os pais com um muro de gelo que derretia lentamente.
Foi ali que o pai entendeu: os filhos eram diferentes. E o mundo lá fora, um dia, viria atrás deles.