O frio chegou primeiro.
Antes do choro, antes do toque das mãos apressadas da parteira, o vento atravessou a janela entreaberta e pairou sobre a casa de pedra como um presságio. Lá dentro, a mulher gritava pela segunda vez em menos de uma hora. Suor escorria pelo seu rosto pálido. O marido apertava sua mão, impotente.
— Vai nascer… o outro — murmurou a parteira, os olhos arregalados.
O primeiro chorara forte, o ar ao seu redor quente demais. Quase incendiou as mantas. O segundo nasceu em silêncio. Mas o chão congelou sob ele.
A mulher, entre lágrimas, sorriu.— Gêmeos…
O velho sacerdote, que observava tudo de longe, aproximou-se e tocou a fronte de cada criança. Seus olhos tremeram.
— Fogo e gelo. O renascer da antiga profecia.
O pai não entendeu. Estava ocupado demais segurando os filhos. Um em cada braço. Um tremia de calor, o outro esfriava o ar ao redor.
— Therys… e Rhaziel — sussurrou.
E do lado de fora, a neve começou a cair, mesmo que fosse verão.