O campo de batalha jazia em silêncio, como se o mundo tivesse parado para testemunhar o colapso de uma muralha invisível dentro de Ryouma. As palavras do Rei Quebrado continuavam reverberando em sua mente como ecos de uma verdade sufocada, aguardando liberação. O céu, agora tingido por tons alaranjados do entardecer, parecia observar, impassível, a metamorfose que ocorria naquele instante.
O vento soprou suavemente, carregando consigo o cheiro de poeira, sangue e algo mais — um perfume leve, quase nostálgico. Ryouma, ainda parado no centro da destruição que havia causado, fechou os olhos e respirou fundo. A sensação dentro de si era indescritível. Não era apenas poder. Era como se uma peça oculta de si mesmo tivesse sido finalmente revelada.
Mas junto com essa revelação veio algo mais sombrio. Um peso. Uma memória.
A névoa da confusão começou a dar lugar a fragmentos de lembranças que ele não sabia que tinha. Imagens desconexas, flashes de uma figura encapuzada, uma voz sussurrando no escuro — "A escolha é sua, mas as consequências… são eternas."
Ryouma cambaleou um passo à frente. O Sistema que o acompanhava desde sua chegada ao mundo de Douluo Dalu brilhou com um tom dourado incomum. Uma notificação silenciosa surgiu diante de seus olhos:
[Atualização do Sistema: Acesso desbloqueado – "Camada Oculta: Linha do Destino"]"Aquele que questiona sua origem, caminha rumo à verdadeira liberdade."
Ele nunca havia visto aquela função antes. Era como se o próprio Sistema estivesse evoluindo com ele. E dessa vez, não parecia apenas uma ferramenta. Parecia... consciente. Mais presente.
— Linha do destino? — murmurou, tocando o painel translúcido flutuando à sua frente. Com um gesto, ele aceitou a atualização. Imediatamente, uma onda de informação inundou sua mente. Não eram dados sobre técnicas ou cultivo. Eram histórias. Vidas. Fios de energia entrelaçados como uma tapeçaria cósmica, mostrando como tudo no mundo estava interligado. Tang San, Xiao Wu, os Mestres dos Salões, o Clã do Céu Claro... e ele.
Um fio dourado, rasgado no início e emendado de forma grosseira com outra linha — escura, vibrante e estranha — representava sua própria existência naquele mundo. Ele não pertencia ao tecido original. Era um enxerto, uma peça introduzida de fora, forçada a se adaptar. E agora, o tecido começava a reagir a essa presença anômala.
Com a mente ainda atordoada, Ryouma se virou e começou a andar. Ele precisava de respostas. Não mais fragmentos ou enigmas. Queria confrontar a origem de sua presença naquele mundo. E para isso, sabia que teria que voltar ao primeiro lugar onde tudo começou — a Floresta da Estrela Douluo.
Foi ali que seus espíritos marciais despertaram pela primeira vez. Foi ali que o Sistema ativou sua interface inicial. Talvez fosse ali que a primeira rachadura da realidade se abriu para permitir sua entrada.
A viagem não foi longa, mas o silêncio a tornava denso. Cada passo pela estrada de terra ressoava como um tambor batendo dentro de seu peito. Ele notava a diferença em si mesmo. Os transeuntes, aldeões e mercadores que encontrava pelo caminho o observavam com uma mistura de admiração e temor. A aura que exalava já não era de um simples jovem cultivador. Era de alguém que havia olhado nos olhos do caos — e voltado.
Ao alcançar o limite da floresta, uma brisa gélida o envolveu. O céu parecia mais escuro ali, como se aquele lugar guardasse memórias próprias. E no momento em que cruzou a primeira fileira de árvores, algo o puxou. Um vórtice, invisível aos olhos comuns, mas sentido até nos ossos.
Seu corpo foi projetado para frente, e a realidade ao seu redor se distorceu. Quando abriu os olhos novamente, não estava mais na floresta.
Estava em um espaço vazio — branco, sem sombras, sem som.
Uma figura surgiu diante dele. Roupas simples, um semblante sereno, e olhos que carregavam o peso de milênios.
— Então finalmente chegou, Ryouma — disse o homem, com voz clara, como se falasse dentro da própria alma de Ryouma.
— Quem é você? — perguntou ele, em posição de guarda.
— Sou o primeiro como você. Aquele que veio antes. Aquilo que você chama de Sistema... fui eu quem o aceitou primeiro.
Ryouma arregalou os olhos.
— Está dizendo que você também foi trazido de outro mundo?
— Sim. E antes de mim, houve outros. Mas eu fui o primeiro a sobreviver ao que virá. O Sistema... não é apenas uma ferramenta. É uma chave. Um catalisador. E você, Ryouma, é a última peça.
— Última peça de quê?
O homem não respondeu. Em vez disso, estendeu a mão. Uma pequena chama dourada dançava em sua palma. Era diferente de qualquer energia que Ryouma já sentira. Pura. Antiga. Assustadoramente viva.
— Se aceitar esta chama, começará a ver o verdadeiro mundo oculto dentro de Douluo Dalu. As regras, os deuses, os planos. E entenderá por que você foi escolhido.
Ryouma hesitou. Tantas perguntas. Mas dentro de si, ele sabia — esse era o próximo passo. A verdade custaria caro, mas viver na ignorância pesaria ainda mais.
Ele estendeu a mão, tocando a chama.
A dor foi imediata.
Seu corpo inteiro tremeu, seu espírito gritou, e o Sistema explodiu em centenas de notificações simultâneas. Mas Ryouma não recuou.
A chama se fundiu com seu corpo.
E naquele instante, ele viu.
As engrenagens do destino.
Os sussurros dos deuses.
E algo além, espreitando nas bordas da realidade.
Uma nova guerra estava prestes a começar — não por território, ou por poder espiritual. Mas pelo direito de decidir a verdade do próprio mundo.
E Ryouma seria o divisor de águas.