O Refúgio de Prata estava silencioso novamente, mas o ambiente agora parecia mais carregado. Ethan sentia o peso do que acabara de acontecer. Kael, o Elo do Sangue, havia se retirado, mas a sensação de que algo maior estava em movimento não deixava sua mente. Algo estava prestes a se romper — ele sentia isso em cada fibra de seu ser.
Maerlyn ficou ao seu lado por um momento, observando a névoa que agora tomava conta da área onde Kael desapareceu. Ela estava em silêncio, mas seu rosto dizia mais do que palavras poderiam expressar.
— Você não o derrotou. — ela disse finalmente, com um tom pensativo, mas grave.
Ethan a olhou, sem saber exatamente como reagir. O que Kael havia feito a ele não foi um simples teste de poder. Ele sabia que Kael estava se afastando, mas a batalha não estava terminada. A conexão que Ethan havia estabelecido, a força de seu Elo, era algo que ele mal entendia.
— Eu não precisava derrotá-lo. — respondeu Ethan, tentando entender o que estava acontecendo dentro de si. — Eu só precisei... tocá-lo. Sentir sua energia. Ele não entende, mas a conexão é mais forte do que ele pensou.
Maerlyn respirou profundamente, como se absorvesse as palavras de Ethan. Ela sabia mais do que ele queria admitir. Sabia que o Elo da Ligação era um poder profundo, mas também arriscado. Cada ação que Ethan tomava, cada decisão que ele fazia, afetava o equilíbrio dos Elos.
— Ele tem razão sobre uma coisa. — Maerlyn falou de forma hesitante. — O que você carrega não é apenas um poder. Não é só uma força. É uma sentença. Uma responsabilidade. Você não pode simplesmente usá-lo sem entender o que ele exige de você.
Ethan sentiu o peso de suas palavras. A marca em seu peito pulsava levemente, como se estivesse tentando se lembrar de algo. Algo importante.
— Eu já estou começando a entender o que ele quer dizer. — disse Ethan, seus olhos focados no vazio à sua frente. — Cada vez que uso o Elo, sinto que me conecto mais a ele. Mas é uma conexão... que me consome. Eu sinto as correntes ligando meu destino ao de outros, mas ao mesmo tempo, não sei o que fazer com isso.
Maerlyn olhou para ele com um olhar distante, quase triste.
— Isso é exatamente o que o Elo da Ligação faz. Ele não permite que você seja apenas uma pessoa, uma alma isolada. Ele liga você aos outros. Ele cria conexões. Mas essas conexões não são simples. Elas podem ser profundas e devastadoras. O Elo do Sangue, que Kael carrega, é um reflexo disso. Ele é sobre... dissolução. Ele separa e destrói, mas também conecta ao seu modo.
— Então você está dizendo que os Elos não podem ser controlados? — Ethan perguntou, suas palavras cheias de confusão e frustração.
— Eles podem, mas com grande sacrifício. O Elo do Sangue escolhe quem vive e quem morre. O Elo da Ligação… liga quem vive e quem já se foi. Cada Elo tem seu papel e sua consequência. E, no final, se não soubermos lidar com o que carregamos, podemos ser consumidos.
Ethan sentiu uma onda de pensamentos se misturando em sua mente. Era como se um véu tivesse sido levantado, revelando as implicações daquilo que ele possuía. Não era apenas um poder que ele podia controlar e usar conforme desejasse. Ele era agora parte de algo muito maior, e com isso, sua responsabilidade se multiplicava.
Mas o que realmente o assombrava não era o fato de ser responsável. Era o peso da ligação. Ele sabia que, ao se conectar com algo, ele também estava se distanciando de outras coisas. O Elo da Ligação não era apenas uma ferramenta de poder — ele também cortava, separava e deixava marcas invisíveis nos caminhos que percorria.
— E quanto aos outros Elos? — perguntou Ethan, tentando desviar de seus próprios pensamentos. — Há mais como Kael? Outros que possuem essas marcas?
Maerlyn hesitou antes de responder, como se procurasse as palavras certas.
— Sim, há. Mas cada um dos Elos é diferente. E cada portador tem uma conexão única com seu poder. Kael, por exemplo, não é alguém que busca... harmonia. Ele é alguém que busca controle. O Elo do Sangue exige isso. Mas os outros? Cada um de nós tem um papel a desempenhar. O Elo da Ligação, seu papel, Ethan, é unir. Mas a verdadeira pergunta é: você pode controlar essas ligações, ou elas vão controlar você?
Ethan sentiu o calor da marca em seu peito aumentar, como se estivesse respondendo à pergunta que ele ainda não sabia formular.
A tensão crescia dentro dele. Ele não sabia como, mas sabia que algo estava prestes a acontecer. Algo que mudaria tudo.
— Eu não sei. — disse Ethan, com sinceridade. — Mas eu sei que não vou fugir disso.
— Então prepare-se. — Maerlyn disse, com uma seriedade que não deixou espaço para dúvida. — O caminho à frente será muito mais difícil do que você imagina.
Sem mais palavras, Maerlyn se afastou, deixando Ethan sozinho com seus pensamentos e com a sensação crescente de que os Elos estavam se aproximando. Cada movimento, cada escolha que ele fizesse agora afetaria mais do que seu próprio destino.
O Refúgio de Prata estava em silêncio. Mas Ethan sabia que a verdadeira batalha estava apenas começando.