Cherreads

Chapter 25 - Capítulo 25: Ecos de Si Mesmo

O silêncio do Refúgio de Prata era opressor.

Mesmo no interior da sala confortável que Maerlyn lhe oferecera, Ethan não conseguia dormir. A cama macia, as velas acesas por magia estável, os livros antigos… nada dissipava a inquietação que crescia dentro dele.

A marca em seu peito não doía. Mas ardia em lembranças. E perguntas.

Ele se levantou.

Seguiu pelos corredores prateados, cujas paredes emitiam um brilho tênue, como se fossem alimentadas por uma energia constante, viva. À medida que caminhava, sentia o ambiente reagir à sua presença — as luzes se intensificavam sutilmente, as inscrições ao longo das colunas tremeluziam, como se o Refúgio estivesse... testando-o.

Ethan não era um hóspede qualquer.

Ele era o Elo desperto.

Ao chegar a uma das salas centrais, encontrou uma biblioteca circular com três andares. Escadas conectavam os níveis, e livros se organizavam por temas indecifráveis, em línguas antigas. No centro, uma mesa redonda, marcada com sete círculos concêntricos e uma cadeira em cada ponto cardinal.

Uma figura já estava ali, sentada à sombra de uma pilha de manuscritos.

— Você não dorme, pelo visto. — disse Maerlyn, sem olhar para ele.

— Você também não.

Ela sorriu, mas seus olhos permaneceram fixos num pergaminho antigo.

— O sono é luxo dos despreocupados. Os que carregam os Elos... não dormem com leveza.

Ethan se aproximou e olhou o que ela lia. Era um diagrama antigo de corpos entrelaçados por linhas de energia. Não linhas normais — vínculos. Cada figura representava uma entidade com uma marca brilhante no peito, e no topo da página, em runas antigas, lia-se:

"Quando os Sete ressoarem, o mundo será refeito — ou consumido."

— Esses são os outros Elos? — perguntou Ethan.

Maerlyn assentiu.

— Os textos falam deles como 'Fragmentos de Essência'. Cada um representa algo que sustenta a realidade como conhecemos. Você despertou o Elo da Ligação. Ele é o primeiro porque conecta os demais. É através de você que os outros... poderão se manifestar.

— E os outros Elos? Ainda estão adormecidos?

Ela fez uma pausa longa.

— Talvez. Talvez não. O surgimento do seu Elo pode ter reverberado como um trovão nos planos superiores. E se alguém... outro Elo... já estiver desperto... ele pode estar vindo ao seu encontro.

Ethan absorveu a informação com o estômago apertado. Algo em seu instinto lhe dizia que Maerlyn não estava sendo totalmente transparente. Mas ele entendeu por que.

Confiança não era algo fácil, especialmente entre aqueles que conheciam as verdades profundas do mundo.

Ele apontou para um dos círculos no centro da mesa.

— E esse? — era o único círculo riscado com linhas em zigue-zague. Um símbolo de rompimento.

— O Elo do Esquecimento. — Maerlyn disse, com um tom mais sombrio. — Dizem que ele foi destruído. Mas há quem acredite que ele apenas se escondeu.

Ethan se virou para ela.

— Esconder um Elo? Como?

Ela suspirou.

— Esquecendo-se de si mesmo. Um dos Elos sacrificou sua consciência, suas memórias, tudo o que era, para desaparecer da influência dos demais. O Elo do Esquecimento não é apenas o poder de apagar... mas de se apagar.

— E se ele for encontrado?

Maerlyn o encarou com frieza.

— A realidade pode... esquecer que existe.

Essas palavras ficaram gravadas em Ethan com peso esmagador. Era como se a existência do próprio universo estivesse sustentada por fios tênues e quase invisíveis — e agora, esses fios estavam sendo tensionados.

Antes que pudesse dizer algo, o Refúgio estremeceu.

Leve, quase imperceptível. Mas não foi um tremor natural.

Maerlyn se levantou imediatamente, o corpo rígido. — Algo passou pela Barreira. Mas... como?

— Os Espreitadores? — Ethan perguntou, empunhando sua lâmina espiritual.

— Não. É algo... diferente.

Eles correram pelos corredores, atravessando os anéis protetores do Refúgio. À medida que se aproximavam do limite, sentiram uma nova energia — não negra como a dos Espreitadores, mas intensa, quase selvagem.

Quando finalmente chegaram ao saguão externo, viram uma figura em pé no limite da barreira prateada.

Um jovem.

Cabelos longos presos num rabo de cavalo, olhos dourados como brasas, e uma aura escarlate ondulando ao seu redor como fogo sagrado. Em seu peito, brilhava uma marca… diferente da de Ethan.

Era uma espiral com pontas afiadas, girando lentamente como um redemoinho de sangue e energia.

Ethan sentiu um calafrio.

A figura sorriu.

— Então é você. O Elo da Ligação. — disse o recém-chegado. Sua voz carregava um tom calmo, mas cheio de ameaça velada. — Eu sou Kael. Portador do Elo do Sangue. E vim ver... se você é digno de manter o seu.

A barreira prateada tremeu ao seu toque. E Maerlyn empalideceu.

— Não pode ser… Ele já despertou também?

Ethan ficou parado, encarando Kael.

— Está me desafiando?

Kael sorriu. Mas seus olhos não sorriam.

— Não. Ainda não. Antes disso, quero saber... se você está disposto a morrer pelo seu Elo.

E a marca no peito de Ethan começou a queimar.

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