Ethan não sabia quanto tempo havia se passado desde que a criatura sombria o atacara. O tempo parecia diluir-se em sua mente, como se a própria floresta estivesse brincando com sua percepção da realidade. Cada passo que ele dava parecia conduzi-lo mais fundo na escuridão, e mesmo a luz da esfera que ele carregava parecia vacilar de vez em quando, como se estivesse lutando contra a imensidão da noite ao seu redor.
O ambiente estava mais pesado agora. A neblina, antes sutil, agora envolvia cada árvore, cada folha, criando um manto opressivo que cobria tudo. As sombras não se limitavam mais às criaturas que espreitavam nas profundezas da floresta, mas pareciam crescer a partir dele mesmo, surgindo de suas próprias dúvidas e medos.
Ele se lembrou das palavras da Guardiã. "As sombras estão dentro de você também." Aquela frase reverberava em sua mente enquanto ele caminhava, forçando-o a confrontar os próprios demônios que ele havia ignorado durante sua jornada.
Cada passo parecia uma batalha, não contra a floresta ou contra seres sombrios, mas contra si mesmo. A dor pela perda de sua irmã, a dúvida de que ele poderia realmente fazer a escolha certa, a ansiedade de carregar o peso de um destino que não compreendia completamente... tudo isso se manifestava como um vazio dentro dele. Era uma escuridão mais profunda que a própria floresta.
"Eu preciso continuar", pensou Ethan, com a determinação começando a crescer dentro dele. A luz da esfera de energia continuava a brilhar com força, iluminando seu caminho, mas a cada passo, ele sentia que estava mais distante de tudo o que conhecia.
De repente, ele parou. À sua frente, uma imensa árvore, mais alta do que qualquer outra que ele já tinha visto, emergiu das sombras. Suas raízes se entrelaçavam como serpentes gigantescas, e seu tronco estava coberto por uma casca escura e antiga, com marcas que pareciam gravadas por séculos de história. Mas o mais impressionante eram as suas folhas. Elas eram translúcidas, emitindo uma leve luz azulada que iluminava suavemente a clareira ao seu redor. A árvore parecia ter uma energia que transcende o natural.
A esfera de luz que ele carregava começou a brilhar com mais intensidade à medida que ele se aproximava da árvore, como se ela estivesse reagindo à presença de Ethan. Ele sentiu algo profundo dentro de si, um chamado, um impulso irresistível que o atraía para o tronco da árvore.
Ele deu mais um passo à frente, sua mão estendendo-se involuntariamente em direção à casca da árvore. Quando seus dedos tocaram a superfície fria da árvore, uma onda de energia percorreu seu corpo, fazendo-o se curvar, como se a própria árvore estivesse invadindo suas memórias e pensamentos. Ele viu flashes de imagens, momentos de sua vida que ele não lembrava, mas que de alguma forma pareciam familiares.
Ele viu a sua irmã, sorrindo para ele enquanto brincavam quando ainda eram crianças. Viu seu pai, com um olhar preocupado, pedindo-lhe para ser forte. Viu a guerra se aproximando e os estranhos olhos de uma figura encapuzada que o observava à distância.
Ethan gritou, mas a imagem se desfez rapidamente. Ele caiu de joelhos, a sensação de ser engolido pela árvore, pela própria história que estava ligada a ela, quase o dominando. Ele não sabia se estava sonhando, se tudo aquilo era real ou uma ilusão criada pela árvore. Mas a verdade estava clara. A árvore não era apenas uma fonte de poder. Ela era o elo entre todos os mundos, entre todos os momentos, e talvez, entre as escolhas que ele tinha feito.
Quando ele olhou para cima, viu uma figura encapuzada de pé diante de ele. A mesma figura que havia visto nas visões. Os olhos brilhavam com uma luz dourada, intensa e penetrante. A figura sorriu, mas o sorriso não trazia consolo. Era enigmático, como se soubesse algo que ele não sabia.
— Você chegou finalmente, Ethan. — A voz da figura era baixa e poderosa, ressoando nas profundezas de sua mente. — Mas, você está preparado para o que vem agora?
Ethan se levantou, seu coração batendo forte no peito. Ele sabia que a figura diante dele não era uma ilusão. A sensação de urgência e perigo era palpável. Ele sabia que tinha que tomar uma decisão, e essa decisão não seria fácil. Ele olhou para a árvore e, depois, para a figura misteriosa.
— O que você quer de mim? — Ethan perguntou, com os dentes cerrados, determinado a enfrentar o que fosse necessário.
A figura inclinou a cabeça lentamente, seus olhos dourados fixos em Ethan.
— Eu não quero nada de você, Ethan. — A figura respondeu, com um tom de voz que misturava tristeza e sabedoria. — O que você quer de si mesmo? A árvore pode te dar tudo o que você deseja. Poder, sabedoria, redenção. Mas o que você escolher será definitivo. Você sabe disso, não sabe? A árvore não dá presentes sem preço. Cada desejo, cada escolha, vem com uma consequência.
Ethan engoliu em seco. O peso daquelas palavras se cravou como uma lâmina em seu peito. Ele sabia que a árvore tinha poder, mas ele não estava certo do que ele realmente queria. O que ele buscava? O que ele precisava para salvar seu mundo, para proteger sua irmã e aqueles que ele amava? E o mais importante, o que ele estava disposto a sacrificar para obter o que procurava?
— Não sei o que quero. — Ethan disse, mais para si mesmo do que para a figura. Ele sentia o vazio dentro de si se expandir, preenchendo-o com mais incertezas. — Eu só sei que preciso fazer a escolha certa.
A figura sorriu, como se tivesse esperado aquela resposta.
— A escolha certa, você diz... — A figura falou suavemente, quase como se a palavra tivesse um significado diferente para ela. — Mas o que é certo, Ethan? O que é certo em um mundo onde tudo pode ser alterado? Onde o destino é moldado pelas suas ações, mas também pelas ações dos outros? A árvore vai te mostrar tudo isso, se você estiver disposto a ver.
Ela estendeu a mão e, em sua palma, surgiu uma pequena esfera de luz, semelhante àquela que Ethan havia carregado desde o início de sua jornada. Porém, a esfera parecia muito mais poderosa, mais viva, pulsando com uma energia intensa.
— Este é o caminho. — A figura disse, oferecendo-lhe a esfera. — Mas lembre-se, uma vez que você tocar essa luz, não poderá voltar atrás. A decisão será sua, mas as consequências... serão suas também.
Ethan olhou para a esfera, sentindo o peso de suas palavras e a gravidade da situação. Ele estava diante de um ponto sem retorno. O futuro, o destino de sua irmã, dos mundos e de todas as pessoas que ele amava, estava em suas mãos.
Ele respirou fundo, sentindo o calor da luz da esfera em suas mãos. Sabia que algo dentro dele mudaria para sempre, mas não sabia se isso seria para o bem ou para o mal.
— Eu estou pronto. — Ele finalmente disse, sem hesitar.
E, com essa decisão, ele tocou a esfera.