Era manhã. O céu de Tóquio se pintava de tons alaranjados enquanto a cidade despertava em meio ao barulho dos carros, o som abafado dos passos apressados e a melodia das folhas dançando com o vento. No meio de tanta pressa, dois jovens caminhavam lado a lado — ou melhor, ela caminhava animada, e ele, como sempre, permanecia em silêncio.
Rajime Ototsuy era um garoto de 16 anos com olhos cinzentos como neblina e cabelos pretos como a noite. Alto, magro, o tipo de pessoa que passaria despercebida... se não fosse pelo olhar frio que parecia enxergar através das pessoas. Tinha fama de estranho na escola — não sorria, não conversava, não se envolvia. Era uma muralha ambulante.
E ao lado dele, como se a muralha tivesse um raio de sol particular, caminhava Mina Aoi. Seus cabelos dourados batiam nos ombros como fios de luz, os olhos azuis brilhavam como o céu de verão, e cada passo dela era como uma nota de música. Mina falava pelos dois, ria pelos dois, e insistia em estar ao lado de Rajime todos os dias.
— Você dormiu bem, Rajime? — perguntou ela, sorrindo como se fosse um hábito respirar.
— Normal. — foi tudo o que ele respondeu, sem encará-la.
Ela sorriu ainda mais. Sabia que, para ele, isso significava "sim".
Mina não se importava com a frieza de Rajime. Ela conhecia o garoto por trás do escudo — aquele que passava horas lendo em silêncio, que colocava o casaco sobre ela quando esfriava, e que uma vez enfrentou três valentões sozinhos só porque ela chorava escondida atrás da escola.
Eles se conheceram no orfanato. Cresceram juntos. E se apoiaram nos momentos em que o mundo parecia desabar.
Naquela manhã, tudo parecia normal. A mesma caminhada até a escola. As mesmas palavras poucas dele, os mesmos sorrisos muitos dela.
Mas, quando os dois atravessaram a faixa de pedestres perto da praça...
O céu rasgou.
Uma luz azul intensa caiu sobre eles, silenciosa como o tempo parando. E, em um segundo, o mundo ao redor virou poeira e vento.
Mina tentou gritar. Rajime tentou puxá-la. Mas não houve tempo.
Ambos desapareceram, engolidos por uma luz que parecia chamar apenas por eles.
E assim, começou a lenda do garoto frio e da garota gentil... no mundo onde o destino os esperava.