Capítulo 2 – Uma carta fora do baralho
> O dia seguinte parecia normal.
Mas Alice sabia — nada estava normal.
Ela ainda sentia o eco do sonho no corpo: os doces que segurava, o som das cartas marchando, e... o sorriso.
Quando desceu pra tomar café, a TV da sala passava um desenho antigo. A tela em preto e branco mostrava uma sequência repetida: um gato sentado em cima de uma mesa, com um chá fumegante.
Piscou.
O gato piscou de volta.
Alice desligou a TV.
Subiu correndo.
No quarto, o pôster do chá estava diferente outra vez — o gato agora estava em pé. Uma de suas patas segurava uma carta: dama de copas.
E colado na borda inferior do pôster, havia algo que não lembrava ter deixado ali:
Um envelope antigo, de papel envelhecido.
Ela o abriu com as mãos trêmulas. Dentro, havia apenas uma carta de baralho.
Não qualquer carta.
Era ela.
Rainha de Copas. Mas o rosto era... estranho.
Rabiscado. Incompleto.
O corpo da rainha era desenhado com traços tortos, como se uma criança tivesse feito com raiva. E embaixo, escrito em caligrafia rústica:
"Sabe jogar?"
Alice sentiu um arrepio.
A carta escorregou de sua mão.
Quando foi pegá-la, um canto afiado arranhou a palma dela.
Nada demais.
Só um pequeno corte, mas o sangue era mais escuro do que deveria.
E enquanto limpava a mão com um lenço, notou no verso da carta algo que não estava lá antes:
Um desenho.
Era um esboço grotesco de uma pessoa de cabelos lisos e vestido sendo levada por soldados de baralho, ajoelhada, enquanto a Rainha sorria com um machado na mão.
A pessoa rabiscada estava sem rosto, mas o colar era o mesmo que Alice usava.
Ela estava sendo executada.
Ao longe, ecoou um riso abafado.
Baixo.
Arrastado.
Familiar.