O vento frio soprava com intensidade, como se o próprio mundo estivesse reagindo ao que acontecera. Ryouma caminhava sem rumo, seus pensamentos confusos, mas um fio de determinação o guiava. Embora tivesse feito sua escolha no Julgamento, ele sabia que o verdadeiro desafio estava apenas começando. A decisão de buscar um propósito maior não significava que os problemas desapareceriam; ao contrário, significava que ele agora teria que enfrentá-los com uma nova perspectiva.
Enquanto avançava, suas memórias recentes começaram a se entrelaçar. O Juízo fora uma experiência de grande intensidade, mas também um reflexo do que ele sempre soubera: o poder não era apenas uma ferramenta, mas uma maldição se não fosse bem compreendido e controlado. Ele se lembrava de seus mestres no mundo anterior, de como eles haviam lhe ensinado a importância de balancear os aspectos físicos e mentais da força. Mas aquilo era diferente. Agora, ele estava imerso em um mundo onde magia e força espiritual eram as principais fontes de poder.
Os ecos das palavras de Daelus ainda ressoavam em sua mente. "O poder que você agora possui virá com responsabilidades." Mas ele sabia que, para proteger aqueles ao seu redor, ele precisaria se tornar ainda mais forte. Ele não podia permitir que suas próprias dúvidas o impedissem de alcançar seu objetivo.
De repente, Ryouma parou de caminhar. Seus sentidos, agora aguçados por sua recente experiência, captaram algo. Uma presença. Não uma presença de energia pura, como as que ele sentira durante o Julgamento, mas algo mais sutil, mais... sombrio.
Ele se virou lentamente, seus olhos brilhando com a intensidade de quem está preparado para qualquer coisa. Não demorou muito para que uma figura começasse a se materializar na névoa, uma figura familiar, mas que ele não esperava encontrar ali.
— Ryouma… — disse uma voz suave e familiar. Quando a figura emergiu da névoa, Ryouma sentiu uma onda de choque percorrer seu corpo. A figura diante dele era um rosto que ele não via há muito tempo. A figura era sua própria irmã, Mayumi, mas havia algo diferente nela. Sua expressão estava fria, quase como uma sombra de quem ela realmente era.
— Mayumi… — Ryouma murmurou, sem saber o que dizer. Ele sentiu uma mistura de alívio e inquietação. Sua irmã estava ali, mas algo estava terrivelmente errado.
Mayumi olhou para ele com um olhar distante, como se estivesse observando algo além dele, como se ele fosse apenas um reflexo de algo maior.
— Você tem se tornado forte, Ryouma — ela disse, sem realmente olhar para ele, sua voz baixa e cheia de um tom estranho. — Mas eu temo que, quanto mais forte você se torne, mais difícil será para você perceber o que está perdendo.
Ryouma deu um passo à frente, tentando alcançar a irmã que ele tanto amava. No entanto, um peso inexplicável o detinha. Ele sentia uma pressão em seu peito, como se as palavras de Mayumi tivessem tocado algo profundo dentro dele. Algo que ele não conseguia compreender.
— Mayumi, o que aconteceu com você? — ele perguntou, os olhos agora se estreitando de preocupação. A presença dela parecia estranha, e ele não conseguia entender como ela estava ali, naquele lugar, após tudo o que acontecera no passado.
Mayumi, agora parecendo mais uma sombra do que a pessoa que ele lembrava, finalmente olhou diretamente para ele. Seus olhos estavam vazios, como se não houvesse mais vida neles. A sensação de que ela estava distante dele aumentava, como se ela estivesse em outro plano, completamente afastada da realidade que ele conhecia.
— Eu… sou apenas uma lembrança agora — disse ela, as palavras saindo com uma lentidão que parecia tirada dos recônditos de sua alma. — Você segue seu caminho, Ryouma. Mas não se esqueça do que você deixou para trás. Às vezes, os laços do passado podem ser mais fortes do que a força do futuro.
Ryouma engoliu em seco, o peito apertado pela dor e confusão. Ele sabia que Mayumi estava em algum lugar dentro de si, mas o que ela estava dizendo não fazia sentido. O que ela queria dizer com aquilo? O que ela quis dizer com "os laços do passado"?
— Mayumi, não fale assim! O que você está tentando dizer? — Ryouma quase gritou, mas sua voz saiu fraca, como se estivesse perdendo sua irmã diante de seus próprios olhos.
Ela sorriu com uma expressão triste e vazia, como se soubesse algo que ele ainda não compreendia.
— Você já sabe, Ryouma. No fundo, você já sabe… — ela disse, antes de começar a desaparecer na névoa mais uma vez, suas palavras flutuando no ar como uma mensagem inatingível.
Ryouma deu um passo à frente, mas foi em vão. A figura de Mayumi desfez-se lentamente, até desaparecer por completo. Ele ficou ali, parado, sem saber o que pensar. Sua mente girava em torno das palavras dela. O que ela quis dizer com "não se esqueça do que você deixou para trás"? Havia algo que ele não entendia, algo que ele ainda precisava resolver em seu coração.
Mas uma coisa ele sabia: aquilo não era o fim. O caminho que ele estava trilhando o levaria a algo muito maior, algo que ele ainda não compreendia. E, por mais que o peso do passado o atormentasse, ele não podia parar. Ele tinha feito sua escolha, e agora precisava avançar, mesmo que isso significasse enfrentar suas próprias sombras.
Ryouma fechou os olhos por um momento, reunindo a força para seguir em frente. Ele não podia deixar o passado defini-lo. A escolha que ele fizera no Juízo, de seguir em busca de um propósito maior, era sua. E agora, mais do que nunca, ele precisava confiar em si mesmo.
Com um suspiro profundo, ele virou-se e continuou sua caminhada. O futuro ainda estava em aberto, e ele não sabia exatamente o que o aguardava, mas sabia que não podia mais recuar. O poder que ele possuía agora não era mais uma bênção ou maldição, mas uma responsabilidade que ele estava disposto a carregar.
O vento ao seu redor se acalmou, e a névoa que antes o cercava começou a dissipar-se. Mas a sensação de que algo maior estava prestes a acontecer permanecia. E, enquanto Ryouma avançava, ele sabia que cada passo o aproximava da verdade que ele tanto buscava.