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Chapter 66 - Capítulo 66 – O Caminho da Perdição

A sombra das árvores se alongava pela planície da Academia Shrek. O vento passava sem direção, como se a própria natureza estivesse sentindo a pressão que tomava conta do lugar. Ryouma se encontrava sozinho, sentado em um banco de pedra no pátio da Academia, com os olhos fixos no horizonte. Seu olhar estava distante, quase como se visse algo além do mundo que o cercava.

Nos dias que se seguiram ao início do Julgamento, ele se afastou de todos, mergulhando em seu treinamento, em sua busca por respostas. O poder do Juízo, a energia que ele absorvera de Daelus, ainda pulsava dentro dele, e cada dia que passava, essa energia se tornava mais intensa, mais difícil de controlar. Ele sabia que não poderia mais ignorar os sinais.

O Juízo estava se aproximando. E, com ele, a promessa de um destino irrevogável.

Ao longe, a porta do edifício principal da Academia se abriu, e Flender saiu com uma expressão tensa. Ao seu lado estava Tang San, com os olhos fixos em Ryouma. Eles estavam começando a entender que as mudanças que ele estava passando não eram apenas físicas. Havia algo mais profundo acontecendo, algo que nem mesmo o Mestre tinha a resposta.

— Ele não está mais como antes — Flender disse em voz baixa, olhando para Ryouma, que ainda estava em seu estado de imersão, ignorando completamente o mundo ao seu redor.

Tang San observou, mas não respondeu imediatamente. Ele sabia que a situação havia chegado a um ponto crítico, mas não queria tomar decisões precipitadas. Ryouma não era mais um simples companheiro de treino. Ele se tornara algo além do que eles podiam compreender.

Xiao Wu, que se aproximava silenciosamente, colocou a mão no ombro de Tang San, tentando entender o que se passava na mente dele.

— Você acha que ele ainda pode ser salvo? — ela perguntou, sua voz suave, mas cheia de preocupação.

Tang San olhou para ela com uma expressão sombria. — Eu não sei. Mas algo me diz que ele não está mais buscando a salvação. Ele está indo em direção ao desconhecido.

Xiao Wu olhou para Ryouma, que agora parecia emitir uma aura própria, uma presença quase palpável que fazia o ar ao seu redor vibrar. Ela sentia como se a própria atmosfera estivesse carregada de energia.

— O que você acha que aconteceu com ele? — ela perguntou novamente, mais para si mesma do que para Tang San.

Ele não respondeu imediatamente. Estava começando a compreender que Ryouma não estava mais no controle. O Julgamento não era apenas algo que ele estava passando; o Julgamento estava acontecendo nele, e isso o transformava de formas que nenhum deles conseguia entender. Tang San sabia que, para poder lidar com a situação, ele teria que ter mais respostas sobre o que exatamente Ryouma havia se tornado.

Ryouma, por sua vez, estava perdido em seus próprios pensamentos. Ele sentia a presença do Juízo com mais intensidade agora. O poder dentro dele era incomparável com qualquer coisa que ele já tivesse experimentado. Cada célula de seu corpo parecia vibrar com a energia do Juízo, como se estivesse se fundindo com algo além da compreensão humana.

Ele sentia como se estivesse sendo observado o tempo inteiro, não por seus amigos, não por seus inimigos, mas por algo mais antigo, mais profundo. O Julgamento estava ali, em cada poro, em cada respiração. O relógio corria, e Ryouma sabia que o momento de sua verdadeira provação se aproximava.

De repente, uma onda de energia percorreu seu corpo. Ele fechou os olhos, sentindo a presença do Julgamento se intensificar ainda mais. Ele estava sendo chamado, mas por quem? Por que ele? O que mais o Juízo queria dele?

No fundo, ele sabia a resposta. Não era algo que ele pudesse escapar. O poder do Juízo era tanto uma bênção quanto uma maldição. Ele não poderia mais retornar ao que era antes. Ryouma já não era o mesmo. E, talvez, ele nunca mais fosse.

Mas, ao mesmo tempo, algo dentro dele se recusava a ser consumido. Ele não tinha intenção de se tornar uma ferramenta, uma marionete de uma força maior. Ele não aceitaria ser apenas um peão nesse jogo.

O Juízo queria moldá-lo, queria testá-lo, mas Ryouma não se submeteria. Ele lutaria.

Foi nesse momento que uma presença familiar apareceu atrás dele. Tang San, Xiao Wu, Flender e o Mestre estavam ali, observando-o com cautela. Ryouma não virou para encará-los, mas sabia que estavam ali. O ar parecia mais denso com a tensão que emanava de seus olhares.

Tang San deu um passo à frente, e a voz dele era grave.

— Ryouma, precisamos conversar. O que você está fazendo não é algo com o que possamos simplesmente concordar. O Julgamento está tomando conta de você. Isso não é algo que você pode controlar sozinho.

Ryouma levantou a cabeça lentamente, seus olhos agora brilhando com uma intensidade que assustava até mesmo Tang San. — Você não entende, Tang San. O Juízo é parte de mim agora. Não é algo que eu posso controlar como algo externo. Ele está dentro de mim, e eu... estou dentro dele.

Flender deu um passo à frente, seus olhos sérios. — Se você continuar nesse caminho, Ryouma, vai perder tudo o que conquistou. A sua essência, a sua humanidade, tudo o que você é... vai desaparecer.

Ryouma olhou para Flender. — Então, que seja. Eu não tenho mais a pretensão de ser humano, Flender. O Juízo me escolheu, e agora ele é tudo o que eu sou. Eu não posso parar.

Xiao Wu se aproximou, tocando seu braço com suavidade. — Ryouma... você está se afastando de todos nós. Não podemos deixá-lo seguir por esse caminho sozinho. Você tem algo muito grande dentro de você. Não deixe que isso destrua quem você realmente é.

Ryouma fechou os olhos por um momento, permitindo que a tensão e a dor se misturassem em seu peito. Ele sentia o peso das palavras de Xiao Wu, mas algo dentro dele o impedia de voltar atrás. A verdade era que ele já havia feito sua escolha. E não havia mais volta.

O Mestre observou tudo em silêncio. Ele sabia que o Juízo era uma força imensa, mas também sabia que nem todo poder era algo que deveria ser controlado por uma pessoa sozinha.

— Ryouma, — disse o Mestre com a voz grave, — você está tomando uma decisão que pode afetar não apenas a sua vida, mas a de todos ao seu redor. Não é tarde para mudar de direção, mas você precisa entender que há um preço a ser pago por essa escolha.

Ryouma olhou para ele com os olhos frios, mas dentro dele, uma chama de dúvida se acendeu por um breve momento. Ele sabia que suas palavras estavam certas. Mas havia algo mais forte dentro dele que o empurrava para frente.

— Eu entendo, Mestre. Mas já não há mais como voltar. A escolha já foi feita. Agora, o que resta é cumprir o destino que o Juízo me reservou.

O Mestre suspirou e, com um olhar triste, virou-se para os outros.

— Então, que seja. Mas saiba disso, Ryouma: o Juízo não escolhe apenas os fortes. Ele escolhe os que estão dispostos a se sacrificar. E nem sempre o sacrifício vale a pena.

Ryouma se virou de volta para o horizonte, a energia dentro dele começando a se expandir com mais força, como se o próprio tempo e espaço ao seu redor estivessem se curvando à sua vontade. Ele sentia que algo estava se aproximando. O Julgamento. E, com ele, o futuro que ele buscava construir.

Mas ninguém sabia o que aconteceria depois.

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