O nascer do sol trouxe consigo um silêncio estranho sobre a Seita Nuvem Nebulosa. Os discípulos caminhavam com passos contidos, e até mesmo os anciãos pareciam hesitantes em falar. Algo havia mudado, mesmo que não estivesse escrito nos anúncios ou proclamado em alto e bom som.
Shin Ryouma sentia esse silêncio se arrastar por sua mente como uma névoa incômoda. Desde sua conversa com Han Zhou na Caverna Esquecida, a sensação de estar sendo observado havia se intensificado. Não era apenas paranoia. O sistema confirmara múltiplas tentativas de leitura espiritual em seu quarto durante a madrugada.
[Alerta de Risco Espiritual: Interferência externa detectada. Contra-medidas aplicadas com sucesso.]
Aos olhos dos outros, Ryouma era apenas mais um discípulo talentoso. Mas a verdade era que ele estava cada vez mais longe da média. E a Seita, com todos os seus recursos e regras, não era mais um refúgio seguro.
Naquele dia, Ryouma caminhou com passos calculados até o local de treinamento de espíritos marciais. A plataforma circular de pedra estava quase vazia. Apenas um grupo de discípulos do núcleo interno testava novas técnicas.
Tang San estava entre eles, aplicando com precisão quase cirúrgica suas habilidades com o Controle de Ervas, manipulando vinhas azuis que se entrelaçavam como serpentes encantadas. Ryouma parou para observar.
Tang San percebeu. Seus olhos encontraram os de Ryouma por um breve segundo, e naquele instante algo mais antigo do que ambos se manifestou no ar: tensão. Não era ódio, ainda. Mas a inevitabilidade de um confronto futuro já era palpável.
— Está se preparando para algo? — perguntou Tang San, com um leve sorriso. Era educado, mas por trás da cortesia havia uma camada de desafio.
— Sempre estou. — respondeu Ryouma, seco.
— Seu espírito marcial... aquele segundo. Ainda não o mostrou por completo, não é?
Ryouma arqueou uma sobrancelha. — E você também não mostrou o seu. O martelo que carrega nas costas de sua alma.
A expressão de Tang San congelou por um instante.
— Não sei do que está falando. — respondeu, voltando a treinar.
Mas Ryouma sorriu internamente. O segredo mais bem guardado do herói original já não era mais tão seguro.
[Missão Oculta Gerada: Desmascarar o Verdadeiro Espírito de Tang San]
Recompensa: Fragmento do Arquivo Proibido – "O Primogênito da Destruição"
A cada passo que dava, Ryouma sentia que o próprio sistema estava começando a provocar choques com os pontos centrais da narrativa do mundo. Como se a sua simples presença ativasse forças adormecidas.
À noite, ele voltou à Caverna Esquecida. Mas desta vez, Han Zhou não apareceu. Em seu lugar, uma pequena esfera prateada estava deixada sobre o altar de pedra. Quando Ryouma tocou, ela se desfez em poeira espiritual e uma voz ecoou dentro de sua mente.
— Você está pronto para caminhar entre os limites do que é permitido? Os Fragmentos não são apenas conhecimento. São chaves. E a próxima chave está onde os vivos não entram sem deixar algo para trás: o Templo do Lamento.
[Nova Missão: Alcançar o Templo do Lamento]
Objetivo: Cruzar as Planícies Amaldiçoadas de Linzhong
Recompensa: Fragmento do Arquivo Proibido – "O Rei Quebrado"
As Planícies de Linzhong ficavam além do território da Seita Nuvem Nebulosa. Regiões consideradas perigosas, amaldiçoadas por guerras entre Douluo do passado e bestas divinas. Lá, o espaço espiritual era instável e até mesmo a respiração exigia energia controlada.
Ryouma preparou-se. A missão exigiria um afastamento da seita — algo que não passaria despercebido. Ele então ativou uma das habilidades menos exploradas do sistema: [Sincronização de Sombra], criando um avatar espiritual capaz de simular sua presença dentro da seita por até cinco dias.
Com a distração ativada, ele partiu durante a madrugada, cruzando florestas e vales com velocidade. Seu corpo já estava em um nível de resistência e percepção que poucos da sua idade possuíam. O sistema não o recompensava com níveis, mas todo esforço verdadeiro — horas de treino, meditação, estudo — eram catalisados, polidos, transformados em poder real.
As Planícies de Linzhong o receberam com um frio sobrenatural. As árvores pareciam feitas de ossos. O céu tinha um tom púrpura constante, como se o próprio tempo estivesse errado ali. Mas entre os ventos cortantes e a energia densa, Ryouma encontrava traços de algo familiar: sofrimento.
Ele caminhou por dois dias, lutando contra bestas espirituais deformadas, sombras do que um dia haviam sido criaturas majestosas. Cada combate era uma dança entre o controle absoluto e o instinto. E em todos eles, Ryouma se segurava para não usar seu segundo espírito marcial.
No terceiro dia, encontrou o portão.
O Templo do Lamento se erguia parcialmente enterrado em uma colina morta. Suas colunas rachadas pareciam chorar sangue espiritual, e vozes murmuravam nas paredes mesmo sem vento.
Ao tocar o portão, o sistema ativou:
[Requisito de Entrada: Oferta de Alma Temporária]
Deseja prosseguir? Isso limitará temporariamente sua regeneração espiritual.
Ryouma aceitou. A dor que se seguiu foi diferente de tudo. Era como se sua alma tivesse sido puxada para dentro de um abismo, rasgada em mil pedaços e então costurada de volta com agulhas de memória.
Dentro do templo, o tempo era diferente. Chamas azuis flutuavam no ar. E no centro, em um trono feito de cristais negros e espinhos, estava uma figura — ou talvez um eco dela.
Era uma mulher. Alta, olhos fechados, mas com a pele brilhando como mármore vivo. Em sua testa, um símbolo conhecido: o mesmo olho em espiral da capa do livro do Arquivo Proibido.
Ela abriu os olhos. E o mundo espiritual de Ryouma tremeu.
— Você é o novo portador. Então ouça... pois esta é a história do Rei Quebrado.
E enquanto sua voz preenchia o templo, Ryouma compreendia que aquilo que chamavam de "segredo"... era apenas a superfície.
[Fragmento Adquirido: O Rei Quebrado – Arquivo Proibido Atualizado]
Mas agora, com esse poder, também vinham perguntas novas... e olhos novos observando. Porque o mundo estava mudando — e talvez não fosse para melhor.