Cherreads

Chapter 20 - Capítulo 20 – O Abismo do Despertar

A noite fora engolida por uma escuridão que ia além da ausência de luz. A fissura no espaço permanecia aberta, pulsando como uma ferida viva no tecido do mundo. De dentro dela, as formas distorcidas continuavam a se contorcer, emergindo aos poucos — sombras que não pertenciam a nenhum plano conhecido de existência, moldadas por ódio, dor e… algo mais primitivo.

Ryouma permanecia de pé, mas seu corpo doía. A explosão da energia que ele próprio havia desencadeado o deixara ferido, tanto fisicamente quanto espiritualmente. As runas do Desespero Primordial ainda brilhavam em sua pele, mas seu brilho vacilava, como uma chama prestes a se apagar — ou a devorar tudo ao seu redor.

Lan Mu, por outro lado, estava imóvel. Os olhos cravados no abismo escancarado, como se tentasse decifrar o que exatamente estava prestes a sair de lá.

— Ryouma… — sua voz veio rouca, quase abafada pelo ruído que a fenda emanava. — Você não apenas rasgou o véu entre os planos. Você despertou aquilo que dormia no fundo. Algo que nem mesmo os Douluo das gerações passadas ousaram provocar.

Ryouma se virou lentamente. Seu olhar, ainda firme, continha um traço de dúvida, coisa rara em seu semblante.

— O que você quer dizer?

— Há muito tempo, durante a guerra entre os primeiros clãs espirituais, uma força antiga foi selada entre os planos. Um fragmento de consciência, nascido do próprio medo humano, da dor acumulada de milênios… um ser sem nome, apenas instinto e ruína. O Desespero Primordial não é um espírito. Ele é a chave. E você a girou.

Ryouma cerrou os punhos.

Aquele sistema… sempre o encorajando a empurrar os limites, a evoluir pelo esforço, pela superação, pela dor. Teria ele sido manipulado desde o início? Ou seria o próprio sistema parte dessa consciência?

Antes que pudesse refletir mais, o solo tremeu. Uma figura — diferente das sombras que rastejavam — emergiu da fenda com lentidão. Era alta, humanoide, mas coberta por uma armadura orgânica e pulsante, de cor negra com veios escarlates. Sua presença exalava uma aura sufocante, tão opressiva que o próprio ar ao redor parecia colapsar.

Os olhos da criatura se abriram: duas fendas verticais, como de uma serpente ancestral, que imediatamente se fixaram em Ryouma.

E então, ele ouviu. Não com os ouvidos, mas dentro da própria mente.

— Portador… carne viva… oferenda…

Ryouma cambaleou para trás. A voz… não era apenas som, era como se a própria alma estivesse sendo corroída.

Lan Mu se colocou à frente dele. Um gesto raro. Um escudo improvisado.

— Você vai precisar se afastar disso, Ryouma. Ainda é possível... talvez seja possível selar novamente. Se agirmos juntos!

Mas o olhar de Ryouma não mostrava medo. Pela primeira vez em muito tempo, seus olhos ardiam com algo diferente da frieza habitual. Determinação… ou loucura.

— Não. Eu não recuarei. Isso veio por mim, e é comigo que ele vai lidar.

Lan Mu girou o rosto, incrédulo.

— Vai enfrentá-lo? Sozinho?

Ryouma sorriu. Um sorriso torto, um traço de desafio. E foi então que ele disse algo que fez Lan Mu empalidecer.

— Eu vou absorvê-lo.

O silêncio durou apenas um segundo, antes de ser engolido pelo rugido da criatura.

Lan Mu avançou, tentando impedir Ryouma, mas já era tarde.

O Desespero Primordial, como se respondesse ao chamado de seu hospedeiro, ativou por completo. As runas em seu corpo brilharam como mil sóis. A energia negra, misturada com partículas prateadas, cobriu o campo inteiro. O próprio tempo pareceu desacelerar.

A criatura rugiu.

Ryouma rugiu de volta.

E então… colidiram.

A explosão de energia que resultou do choque foi tão devastadora que o céu se partiu em nuvens espiraladas. Os animais nas florestas próximas fugiram instintivamente, e até mesmo algumas Seitas menores sentiram a pressão daquela luta, a quilômetros de distância.

Dentro do vórtice de destruição, Ryouma estava mergulhado em uma batalha que transcendia o físico. Era uma guerra de vontades. Sua alma lutava contra uma força viva, antiga, e malevolente. Ele podia ver memórias que não eram suas — cidades destruídas, civilizações devoradas, planetas sendo consumidos pela mesma entidade que agora tentava dominá-lo.

E, no meio desse caos, o sistema finalmente falou.

Alerta Crítico: Força hostil tentando acessar núcleo espiritual. Defesa do sistema ativada.Modo Sincronização de Ressonância iniciando…Parâmetros ajustados para combate de contenção dimensional.Portador: Shin Ryouma. Estado: Limiar.Iniciando Integração Forçada: "Coração do Abismo."

Ryouma gritou. Seu corpo começou a se fundir com a energia do Desespero Primordial. Mas ao invés de ser consumido… ele começou a absorver. Lentamente. Dolorosamente.

O sistema o estava forçando a resistir, não ceder, e assimilar.

O Desespero tentava corromper.

O Sistema respondia com adaptação.

A alma de Ryouma estava sendo despedaçada e reconstruída, pedaço por pedaço, como uma arma viva.

Horas depois… o silêncio retornou.

Lan Mu, sangrando e ajoelhado, observava a cratera onde antes havia um campo. Do centro, uma única figura surgia, coberta por um manto de energia cinza e negra, olhos brilhando em dourado. O chão ao redor tremia a cada passo.

Era Ryouma.

Mudado.

Transformado.

Renascido.

E ao seu redor… não havia mais sombras.

— Shin Ryouma… — murmurou Lan Mu. — O que você se tornou…?

Ryouma ergueu o olhar para o céu.

— Eu me tornei aquilo que o mundo tentou enterrar. E agora… ele vai ter que me aceitar.

More Chapters