O Feitiço sussurrou:
[Você matou um demônio desperto, Legado da Carapaça.]
[Você recebeu uma Memória: Fragmento da Meia-Noite.]
[Sua alma resplandece mais forte.]
Sua voz invariável soou ternamente... como sempre.
Ariandel se demorou na figura do cavaleiro, agora liberto, por mais um breve momento. Então, ele mudou seu olhar para a Memória partida em suas mãos. O arco havia se rompido com o recuo do disparo, da parte central, onde o arqueiro deveria segurar.
'...'
Artesão da Fantasia estava um pouco entorpecido demais para ser abalado pela visão... Não, na verdade, o que realmente o salvou de ver sua mente rachar junto com a preciosa lembrança de seu eu esquecido, foi o fato dela ainda não ter se dissipado em partículas brilhantes.
'Ahh...
Hmm... Bem...
se estiver apenas quebrada... não totalmente destruída, algo ainda pode ser feito a respeito...'
Ele dissipou a Memória.
E, no mesmo seguinte, invocou a página de runas.
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Nome: –
Nome Verdadeiro: Ariandel.
Ranque: Sonhador.
Classe: Monstro.
Núcleos Oníricos da Alma: [2/7].
Fragmentos Oníricos: [156/2000].
Memórias: [???], [Sempre-Viva], [Armadura da Legião Luz das Estrelas], [Fragmento da Meia-Noite].
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Memória: [???].
Classificação da Memória: ???
Nível da Memória: ???
Tipo da Memória: ???
Descrição da Memória: [???]
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'???', pensou Ariandel, com estranheza. 'Depois... hum, depois eu penso sobre isso...'
***
Ao lado do Artesão da Fantasia, seus companheiros tinham se aproximado da borda do galho. Eles olhavam, pasmos, em direção ao guardião do Túmulo Cinzento. Bem... Dois deles, já que Cássia não podia ver.
"O-o que há com esse silêncio... O Demônio está morto?" ela perguntou baixinho, seu delicado rosto de boneca sutilmente marcado pela expectativa.
Sunless e Nephis despertaram de se seu estupor. Ele, subitamente tomado por uma sensação de cansaço, olhou para a menina e, depois, para o demônio novamente.
"Aah..."
Então, riu de puro alívio.
"Sim! A maldita coisa está bem morta!"
Nephis assentiu, genuinamente admirada.
"Arian acertou na região mais frágil da carapaça blindada, bem sobre o coração do demônio."
Cássia reagiu agradavelmente espantada.
"Isso é... realmente Incrível. Um Dorminhoco realmente conseguiu derrotar um demônio desperto."
Artesão da Fantasia a corrigiu com voz agradável:
"Quatro Dorminhocos, na verdade... E foram você e Sunny quem mais contribuíram para esse resultado."
Sunless olhou para o jovem elegante, surpreso — e até agradavelmente — pelo reconhecimento... merecido? Eles realmente contribuíram tanto assim? Não importa, pensou, recusando-se a mergulhar no que o seu amigo bizarro acreditava.
Já a menina recatada, ela virou o rosto com timidez. Levemente, tocou o cabelo, tentando não sorrir, e retrucou:
"Ainda assim... mais dois ou três? Isso não muda muita coisa. Algo como Sonhadores derrotando um Demônio Desperto... só deveria acontecer em webtoons, não é?"
Ariandel afastou-se do horizonte, os olhos voltando — divertidos — para encarar Cássia — seu belo rosto marcado por uma ironia que só ele reconhecia.
"Ah, Cás... minha querida."
Uma risada, gentil e quase melódica, soou num tom agradavelmente contagiante.
"Se você soubesse..."
Ela se voltou para a voz dele, um sorriso confuso pairando nos lábios.
"Hmm?"
Nephis sorriu para a graça dos dois, seus olhos cinzentos brilhavam sutilmente com sagacidade.
"Não pense muito sobre isso. Nosso príncipe encantado tem o dom de deixar até os mais inteligentes sem entendimento."
Houve silêncio.
Todos pararam, virando-se para encará-la.
Nenhum dos três sabia ao certo o que pensar.
Se aquilo fora uma tentativa de humor por parte da Estrela da Mudança, talvez ela realmente não tivesse nenhuma esperança...
Sob o olhar descarado do trio de baixinhos, toda expressão esvaiu-se do rosto da garota alta e ágil.
"Vamos descer?" disse ela por fim, calmamente... ou secretamente envergonhada — nem Cássia, normalmente tão solícita, se dera ao trabalho de atenuar o silêncio estranho.
Ariandel sorriu levemente. Em sua mão, um fluxo sutilmente luminoso de linhas finas e coloridas se teceram em uma corda dourada muito longa. Ele arremessou o pacote bem-organizado em direção a Nephis, que o recebeu com facilidade.
"Antes de nos ocuparmos com qualquer outro assunto. Saibam, meus queridos, que estamos sob o poder de um terror desperto, e um insidiosamente hábil em manipulação mental."
Houve silêncio.
Todos pararam, virando-se para encará-lo.
Nenhum dos três sabia ao certo o que pensar.
Se aquilo fora uma tentativa de humor por parte do Artesão da Fantasia, talvez eles devessem se desesperar... afinal, Ariandel não era de mentir, nem mesmo por brincadeira.
"Como assim?" indagou Nephis rispidamente, sob uma carranca rara — e talvez até um tanto assustada.
Com rigidez quase involuntária, Cássia virou o rosto para a parede de ébano — o tronco monumental da magnífica árvore. Seus olhos se arregalaram devagar, como se vissem algo horripilante. Ela tremeu... e empalideceu.
"Um Terror Desperto?" murmurou Sunless, como se a ideia soasse absurda — mas sua expressão se contorceu de súbito, assombrada pelo pânico.
Exalando levemente, com certo desinteresse, Ariandel levou os dedos aos cabelos longos além do razoável, ondulados e imaculados. Suas luvas se desvaneceram como uma miragem. Ele alisou os fios sedosos, com tranquila satisfação.
"Não se detenham muito nisso. A árvore, além de poder tentar com seus encantos, deve ser capaz de afastar de seus cativos os pensamentos mais evidentes de resistir à sua escravização."
Após um breve momento de pausa preguiçosa, ele continuou, com sua voz agradavelmente profunda e suave:
"Fugir imediatamente também não é prudente. Se deixarmos sua sombra, poderemos ter que enfrentar outro Guardião do Túmulo Cinzento ao retornarmos. Deixem-na ocupada tentando nos encantar... vamos tomar nosso tempo de preparação, antes de prosseguir com a viagem. E não comam de seus frutos."
Sunless perfurou Ariandel com um olhar apavorado.
"Você está louco!?"
"Se estivesse, eu não saberia."
"Você está louco!!"
"Sabe... essas suas falas são meio sem sentido."
"Você! Seu... seu... gnnh... vai se foder! Seu desgraçado!!"
O jovem elegante, por um breve instante, parou. Então, seu olhar se arregalou discretamente. Um pouco chocado, ele se voltou para Nephis.
"Leve seu namorado e vá colher a carne daquele behemoth — obrigue-o a preparar alguns bons bifes de demônio para o café da manhã. Os fragmentos são seus. Depois disso, verifique o caminho para o oeste."
Ela, em resposta, continuou a avaliá-lo com olhos cinzentos insondáveis. Seu rosto, impassivelmente calmo, ainda traía uma rara seriedade sombria.
"Como exatamente você pretende resistir à manipulação mental?"
"Além de meu Atributo, veja: meu Aspecto está ligado ao subconsciente, à imaginação e ao surreal — sua própria natureza reforça minha resistência a esse tipo de poder. E há também esta minha Relíquia, que confere uma resistência moderada contra ataques mentais."
"E nós, o que faremos?"
"A túnica de Cássia possui a mesma medida de proteção — e vem de um outro terror desperto, também hediondamente hábil em manipulação mental. A armadura de Sunless é outa com um pouco de contramedida contra esse tipo de poder, ao que me parece."
"E eu?"
"Você é você."
Após uma última careta, Nephis se moveu e foi amarrar a corda dourada ao galho largo, onde o grupo ainda permanecia esse tempo todo. Enquanto isso, não houve mais nenhuma discussão.
Pelo que parecia, eles realmente iriam permanecer, de boa vontade, nas garras de um Terror Desperto — uma árvore assombrosamente monumental, cujas raízes cresciam devorando o próprio coral... o labirinto que nenhuma outra monstruosidade mortal parecia sequer ser capaz de danificar.
Sunless olhou para seus dois companheiros em total choque. Até que, seus olhos negros reluziram com uma esperança renovada.
Ele se virou para uma Cássia ainda empalidecida.
"Cassi! Me ajude! Fale com o Arian, por favor! Diga alguma coisa para impedir a loucura desses dois!"
Mesmo marcada pelo temor — com os cabelos loiro-claros, grandes olhos azul-celeste e um rosto requintadamente belo — a garota, vestida com uma túnica discreta de tecido encantado, claro e macio, permanecia sutilmente de tirar o fôlego.
Seu olhar, vago e inexpressivo, ergueu-se calmamente na direção da voz que a chamava.
Uma reminiscência fria se espalhou no peito de Sunless, e ela o respondeu:
"Lembre-se: não coma dos frutos."