Cherreads

Chapter 40 - Nada & Ninguém

Dois olhos como espelhos de metal polido capturavam, imperturbáveis, a imagem flamejante do colosso encouraçado em aço lustroso logo abaixo.

Neles era visível, num tom dourado, a gigantesca figura ardendo e cintilando, sua luz radiante refletida em todas as direções.

Na escuridão profana da noite, o cavaleiro parecia um farol de chamas resplandecentes, desvelando a visão dos Sonhadores em toda a sua glória corrompida. De seu corpo massivo e estranhamente elegante, gotas do óleo em chamas caíam no chão, flamejando ao atingir a areia cinzenta.

Sunless encarava o brilho incandescente do fogo, os olhos arregalados. Nephis estava congelada ao lado dele, a mão ainda estendida após o arremesso. Ariandel admirava a cena solenemente, sua mão ainda unida à de Cássia. Ela se segurava ao braço dele, seus lindos olhos nublados voltados em apreensão para o som das chamas.

Todos estavam extasiados...

Até mesmo o próprio tempo parecia impressionado diante do momento.

Todos...

exceto pelo audacioso demônio.

A massa furiosa de espinhos rugiu — soando como uma cacofonia ensurdecedora de metal enferrujado sendo dilacerado por garras gigantes. Seus olhos, como rubis impuros, arderam através do fogo, perfurando os jovens com um feixe concentrado de ódio ensandecido.

Era como se a criatura quisesse fazer sangrar os ouvidos dos quatro Dorminhocos insolentes antes de partir suas medulas e entregá-los vivos à grande árvore — servindo de alimento para ela enquanto sofriam lentamente uma morte revoltante.

***

Enquanto Ariandel segurava Cássia, que se retraiu em seus braços devido à dor causada aos seus ouvidos pelo rugido furioso do monstruoso gigante, sua expressão mudou — seus belos traços marcados por um misto de emoções: medo inquietante, determinação e um... estranho deleite sombrio.

'Que coisa maligna, magnífica...'

Sua expressão tornou-se um tanto indiferente.

'Que coisa; miserável...'

Olhando nos olhos odiosos do colosso, Ariandel também sentiu lamento pelo orgulhoso cavaleiro que a criatura fora outrora — antes de ser tomada pela Corrupção.

Enquanto o Demônio, desejando alcançar os quatro petiscos humanos, desviou o olhar, lançando-o na direção do tronco de obsidiana da grande árvore. No entanto, no final, a fria racionalidade venceu a fúria fervilhante em sua mente.

A luz podia atrair os horríveis habitantes das profundezas. Então, em vez de perder mais tempo, a criatura rolou no chão, pretendendo usar a areia para apagar as chamas dançantes em sua carapaça.

A ilha inteira tremeu. Sunless quase caiu do galho, mas foi salvo por Nephis.

'Embora eu me sinta desconfortável em ter que enfrentar essa coisa — e o que virá após ela — sem outras alternativas... Bem, não há realmente mais nada que possamos fazer.'

Por mais que Ariandel tentasse pensar em contramedidas ou alternativas extras para liderar o grupo sob o Vazio Sem Estrelas, seguir a trama "infeliz" destinada à Corte — confiando cegamente em seu conhecimento, de origem incerta, sobre o futuro original — era a única opção real de salvação para o grupo de Sonhadores.

'De outro modo, como poderiam quatro adolescentes, cada um sofrendo com seus próprios demônios, enfrentar "um mar tempestuoso em um bote pequeno" e, ainda assim, sobreviver para retornar à Terra, se não fosse pela intervenção de uma força maior?'

Ariandel ainda podia seguir outras perspectivas de raciocínio para responder a si mesmo, mas ele e seus companheiros não estavam no melhor momento para isso.

Pois...

de repente.

Era...

de repente...

Era... difícil... de descrever em palavras...

O farfalhar das folhas escarlates parecia mais silencioso, o som das ondas batendo nas margens da ilha cinzenta parecia mais alto... Era como se alguma pressão invisível e sem peso tivesse descido sobre o mundo, fazendo com que tudo parecesse ligeiramente diferente.

Nephis virou-se para encarar a superfície escura do mar. Seu rosto empalideceu levemente. Sunless demorou um segundo a mais para reagir, mas ele também sentiu a estranha mudança no mundo ao redor deles.

Então, o ar ficou mais frio, e uma parede de névoa espessa surgiu sobre as águas escuras. Os olhos de Cássia se abriram em temor — seu rosto trêmulo voltou-se rigidamente do abraço de Ariandel para a direção da névoa.

O Demônio da Carapaça também percebeu essa mudança. Ele parou de tentar apagar as chamas e se levantou da areia, o óleo ainda queimando em sua carapaça. Sem mais prestar atenção nisso, virou-se para o mar, um senso de resignação sombria irradiando de sua postura.

Que, então, foi substituído por determinação sombria e sede de sangue frenética.

A névoa se movia lentamente, rastejando pela ilha, fluindo contra o vento. O som das ondas agora estava abafado e alterado, quase imperceptível.

E ali, na névoa, algo se m—

"Sunny, Neph."

Eles ouviram a voz de Ariandel, num tom que fazia sentir como se uma mão pálida, gélida e lânguida envolvesse gentilmente o coração.

"Aproximem-se de mim e ouçam: não há Nada — nem Ninguém — ao nosso redor. Não abram os olhos, não digam uma única palavra e não ouçam mais nada que lhes seja dito."

***

Estrela da Mudança tremeu, aproximou-se e, obedientemente, fechou os olhos. Um frio rastejante de medo cortava sob sua pele. Ela nunca tinha visto urgência na expressão do jovem tranquilo daquela forma antes, nem mesmo imaginado que sua voz agradável pudesse soar tão aterrorizante.

Ela abraçou seus pequenos companheiros.

Cega, Nephis só podia contar com a audição — pelo menos era o que acreditava, até que a névoa fria tocou sua pele. Então, no silêncio abafado, ouviu a voz de Ariandel novamente.

Só que, desta vez, estava estranha e vinha da direção errada.

"Aproximem-se de mim… e ouçam… de mim…"

***

Sunless engoliu em seco, sentindo os cabelos se arrepiarem. O som estranho da voz de seu amigo bizarro ecoava na névoa, cercando-o por todos os lados. Em vez de ficar mais silencioso, estava ficando mais alto, sobrepondo-se a si mesmo.

"Não há nada, não há nada, não há nada, não há nada!"

***

Então, ficou ainda mais alto e se transformou em uma cacofonia de gritos, batendo em Cássia como uma onda, soando como algo que as cordas vocais humanas jamais poderiam produzir:

"NÃO ABRAM OS OLHOS NÃO DIGAM UMA ÚNICA PALAVRA NÃO!!!"

***

'O-o que...'

Ariandel estava paralisado, apavorado e desorientado pela... falta de sons, pela ausência de qualquer sensação. Ele não ouvia nenhuma voz, nem mesmo conseguia sentir a presença de seus companheiros — com quem certamente estava abraçado antes de a névoa os envolver...

ou acreditava estar... ele esteve?

— DUM...DUM...DUM...

Por que ele não sentia nada... por que não havia ninguém...

— DUM...DUM...DUM...

Sua carne doía... seu corpo formigava ardentemente... seu sangue estava gelado... o desespero rastejava como mil vermes sob sua pele, rumo ao seu coração angustiado.

'Estou sonhando... ainda... estou em meu Pesadelo... não foi real?

Não...

não pode ser...'

Os lábios trêmulos de Ariandel entreabriram-se, desejando chamar por seus amigos.

Suas pálpebras tremeram, seus olhos, sob elas, buscavam encontrar a visão reconfortante de seus companheiros...

Não havia ar em seus pulmões para emitir som.

Seus olhos... eles... eles...

'Aguente... aguente, Ariandel... não abra... os olhos...'

Sua carne doía.

— DUM...DUM...DUM...

Era como se o medo — na forma de um punhal de vidro gélido — fosse cravado em seu peito por uma criatura sádica, hedionda... perversa.

Era como se ele estivesse morrendo...

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